A recuperação vem de quem mais esperamos, também

Fiquei exatamente 1 mês em observação no hospital de Saint Mary’s, ao sul de Londres. A cada dia que se passava eu via Marcia mais e mais acabada, pois ela não tinha tempo nem para se arrumar direito, ela mal saia da cafeteria e ia direto pro hospital e isso me fortalecia cada vez mais. Mas ainda estou na cabeça em descobrir quem é esse filho da puta que atirou em mim, sem mais nem menos. Sai do hospital, fui direto pra minha casa, não via a hora de dormir na minha cama, deitar e relaxar, Marcia tirou o dia de folga pra poder cuidar melhor de mim, que linda, mas ver ela daquela maneira, com uma cara de cansada, com olheiras gritando em seu rosto deixava ela cada vez mais linda, eu não cansava de ficar olhando pra ela, ali do meu lado, deitada curtindo um som. Apertamos um baseado, estava com saudade de apertar um, fumamos juntos ao som de Tim Maia, e aqui a maconha é liberada, podem plantar 2 pés por casa e nisso a gente consegue fazer a cabeça.
Fui me recuperando ao passar dos dias e eu me sentia muito tedioso, porém havia me inscrito ao concurso da polícia e aproveitei esse tempo que estava em recuperação para poder estudar e escrever algumas coisas e Marcia também foi se recuperando, sua aparência parecia bem mais viva, bem mais bonita, eu também gostava dessa fase dela. Eu observava cada passo, cada gesto, cada palavra, cada fase, cada TPM. Nós brigávamos bem pouco, nos entendíamos bem na conversa e isso é um ponto mais que extra para uma relação, você sabe, que uma relação não necessáriamente sem brigas, mas com brigas e entendimento fáceis ajuda muito, dá muito mais vontade de ter essa pessoa mais perto possível. Eu gostava de cada fase de seu rosto, seu corpo, da forma que se cuidava e ela passava mais tempo em minha casa do que com as suas amigas. Ela dormia em casa, fazia nosso café, ia trabalhar e eu nunca me preocupei com ciúmes, ela é uma mulher muito bonita, um sorriso fácil, porém muito segura de si, adulta, e essa segurança acaba passando a quem está ao seu redor.
Não sei se você pode estar pensando que esse relacionamento está muito “conto de fadas” ou algo parecido, mas há pessoas iguais a Marcia e a mim sim, porém são raras a meu ver.
Enfim, estudei muito para esse concurso, era uma coisa que eu sentia que ali era o caminho que eu tinha que trilhar, sentia isso como uma luz que acende e apaga nos mostrando um alerta. O concurso começava num sábado com provas teóricas e no domingo uma prova de praticas, mas como eu estava muito fora de forma pelo acontecido com a bala, eu precisava de alguma forma poder me recuperar, fui a uma consulta médica, ele me disse que eu já poderia começar a me exercitar mas ainda era para pegar leve. Comecei então a correr antes que Marcia vá para a cafeteria, depois do almoço e logo depois entardecer, são horas mais apropriadas para exercícios, pois bem cedo não havia nenhum transito, depois do almoço era hora que a maioria descansa e ao entardecer, todos já tão indo para as suas casas. Por incrível que pareça, eu senti em Marcia uma boa vontade em me ajudar, como se fosse ela que participaria do concurso, cara, que mulher é essa?

Texto do leitor João Pedro Sanches

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