Reviver memorias; algo tão doloroso


Chegou a primavera aqui em Londres, na minha opinião a melhor época do ano. A cidade fica muito mais agradável, um tempo muito bom pra estar com alguém, ter a companhia de alguém, poder passear no bosque, ver os parques cheio de folhas caídas ao chão, deixa a cidade muito mais bonita. Não pra mim. Hoje completara um ano que Marcia se foi, não tive mais notícias, não sei nem se ela esta viva. Quer dizer, eu sinto que ela está viva, sei que ela está muito bem, por sinal. Estou aqui sentado na mesma praça onde venho todos os dias no mesmo horário, sento no mesmo banco. Acho que acabou se tornando meu santuário, onde coloco as feridas pra fora, a magoa e a deixo escorrer. Bruce fica sem entender nada, fica me olhando com uma cara de quem quer saber o que está acontecendo. Bruce é um cachorro inteligente, sabe muito bem quando estou ou não bem, chega a ser engraçado. Dias atrás, estava escrevendo um livro, bebendo um vinho, mas estava triste, ele chegou perto de mim, e ficou ali, me fazendo companhia sem pedir atenção, nada.

Hoje faz um ano. As coisas passam em um piscar de olhos né? Mas quando o sentimento é forte, permanece durante anos, te perturbando. Uma hora passa, outra hora nem se manifesta mas quando resolve dar as caras, cara, não há força que resista.


Quando estou sentado nesse banco, me recordo de cada detalhe seu e isso na mesma hora que me faz sentir feliz por ter essas lembranças, fico irritado, triste, nervoso por te-las também. Seu perfume me procura, cruza o meu caminho e isso não é legal, andar sentindo seu perfume como se ela estivesse ali do meu lado novamente, me faz te procurar sem pensar. Ando pelas ruas, tento me reerguer, tenho projetos com meus livros mas isso está ficando só no “quem sabe mais para frente”, acho que dei uma pausa na minha vida, no tempo, tudo. Posso dar uma adiantada sobre o que aconteceu com a gente, mas nada detalhes, ok? Tivemos uma briga, e essa briga nos devastou, abalou tudo o que a gente tinha vivido e foi jogado fora como se fosse um papel amassado, que você nem se importa em ler. E nesse problema envolve também Carol, amiga de Marcia.

Texto enviado pelo leitor João Pedro Sanches

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