Seguimos cegos, surdos e mudos


 Não faz muito tempo, escrevi um texto sobre as modinhas que existem no país. Situações em que famosos, ou anônimos se promoviam a fim de fazer parte de uma corrente de ações em prol de uma causa social. Sem a menor consciência do que aquela causa representa, era tudo festa e alegria. Foram tantas, balde de gelo, rosto limpo, comer banana, "o corpo é meu", e assim por diante. Longe de mim querer controlar a vida das pessoas, ou mesmo dizer como devem viver (embora escrevendo esse texto sei que posso influenciar alguém), mas essa banalização de feitos voltados para uma problema social, gerou o que eu denomino como: "ratos das mídias sociais". Não estou afirmando que a maioria seja assim ou minoria, entretanto, o cidadão que está realmente interessado em passar uma mensagem importante acaba sendo tragado por famosos, por selfies, discursos burros e piadas. O que acarreta no quase instantâneo esquecimento da causa, quando esses agentes abandonam o barco. Quando passam a discutir outra novidade entre famosos e formadores de opinião. Este último por sinal sofre. A distorção do discurso trazido por ele com aspirações verdadeiras, acaba gerando uma invalidação perante a grande massa, que prefere o simplório caminho dos rótulos administrados pela grande mídia de massa.
A luta continuará com certeza. Depois de todo o alvoroço em torno do movimento, o individuo que sabia o porquê de toda aquela coletivização, manterá seu foco. Para essas pessoas, mesmos as ações mais prejudiciais não representam o fim. Contudo, o estrago muitas vezes está feito, acaba desacreditado muitos na incursão social. As pessoas já correram para nova propaganda, quem segue famosos continua com eles, esperam o dito engajamento da celebridade. Quem ficou para trás, tem que galgar tudo novamente. Muitas vezes, acaba se perdendo em meio ao turbilhão de "faz de conta" que se tornaram os protestos, as ações sociais, as lutas de igualdade (em pleno século 21, ainda?) e ufanismo político, que busca introduzir raiz da alienação numa sociedade jovem, cada vez mais iludida com a liberdade. A luta não é por igualdade, a escala é bem menor. Os vinte centavos de ontem, não compram o pão do pobre. Não liberta a mulher do medo de ser agredida pelo “macho alfa” (modelo falso de realidade impregnado na mente superficial de um homem provedor), criado numa sociedade hipócrita e machista, que cultua o sexo em detrimento das razões morais ou igualitárias.
Quando em 2013, muitos jovens saíram nas ruas para protestar houve um egoísmo de causas, quem lutava por mais do que centavos não teve seu espaço respeitado. E quando a esmola foi conseguida, pelo “Movimento Passe Livre”, o que aconteceu? Acabou. Tentativas posteriores não tiveram o mesmo impacto. Porém, os grupos que lutam pela igualdade social, contra violência, contra corrupção entre outras motivações genuínas, continuam seu empenho em conseguir conscientizar a sociedade. Educar o cidadão com formação primária, ou apenas alfabetizado para escrever o nome e votar, a fim de esclarecer tudo que se torna maquiado na mídia, nas redes sociais, na imprensa de forma geral ou no discurso do "boyzinho" (embora um termo pejorativo a sociedade mais abastada, não fica restrito a pessoas de classe A, são todos aqueles que vislumbram um mundo colorido amarrado em ostentar) que se comove com a situação apenas quando lhe convêm. A ideia de protestos passa longe do paradigma da violência, não conversa com essa parte da revolução. Todas as ações hostis são tratadas como baderna, vandalismo e infiltração política, para repercutir na mídia de forma negativa. Agora, no meu leque, limitado de conhecimento, nunca tive o vislumbre da paz como única arma contra a opressão, que não tem lado. Pode vir do patrão, do marido, do amigo, do político, do bandido. No entanto, essa sempre foi a ultima ação, depois da palavra, o recurso derradeiro. Não faço votos pela violência sem propósito ou mesmo com propósito. Apenas me causa temor, esse discurso de passividade, que amputa o direito de revolta do cidadão. Tirando a legitimação de sua luta quando a deslizes de violência. Resumido para grande massa através dos meios de comunicação, que somente ocorreu violência e mais violência. Esquecendo muitas vezes o principio de liberdade que permite o protesto dentro de uma sociedade democrática insatisfeita com o governo. No caso do Brasil, indiferente, que procura meios para esconder a corrupção. Cego, mudo e surdo assim estamos, lemos sobre roubos, estupros, violência, oportunismo de classes, politicagem, e só o que fazemos é esperar os próximos R$ 0,20 centavos, vai que nessa aumenta R$ 0,30 centavos, que conquista! Não me excluo de nenhuma dessas omissões, porém, acredito que minha única e momentânea arma é a palavra. Recentemente uma jovem foi morta, estuprada e largada dentro do campus da UEM (Universidade Estadual de Maringá), muito se falou, muito se discutiu e muito rápido se esqueceu do nome dela. Como tudo no país do futebol...

Emir Bezerra, Colunista.

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