A gente nunca sabe o que vai acontecer
— Eu não sou obrigado a aguentar tua infantilidade, Maggie, muito menos sua estupidez. Foi dito não, então é não, basta!
— Foi eu que fiquei aqui quando você precisou e é isso que eu recebo em troca? Quem será que é o estúpido da história, Slutt. Você é ridículo!
— Não mais que você.
— O.k. Passar bem.
Dei meia volta e bati a porta atrás de mim com toda a força que ainda me restava. Desci as escadas numa rapidez alucinante e liguei para quem eu nunca ligaria.
— Quero beber, onde você está?
Fui para o bar onde eles se encontravam e pedi algumas doses de vodca com morango. Bebi de forma ridícula como se eu quisesse culpar meu fígado pelos meus problemas de coração, coitado. Senti o estômago embrulhar por diversas vezes mas continuei enfiando vodca guela abaixo. Tentei comer uns petiscos que eles jogavam na minha frente, mas era em vão. Todo o esforço que eu fazia para conter o choro vinha dos goles enormes de saquê de morango. Eu precisava daquilo da mesma forma que um dia precisei do Slutt.
— Preciso ir ao banheiro.
Levantei cambaleando e me segurando nos pilares do bar. Abri a porta do banheiro e depois tranquei. Sei que era um pouco egoísta da minha parte, mas eu precisava daqueles segundos apenas para meu fígado, meu coração e eu. Precisávamos conversar seriamente e nenhum dos três estava se entendendo.
Olhei no espelho e vi no que aquilo havia me transformado. Eu estava acabada, derrotada e com os olhos inchados. Respirei fundo, lavei o rosto e prendi o cabelo. Passei batom e um pouco de rímel e quando destranquei a porta, ela entrou e me prensou na parede.
— Trouxe tequila. Sei que você gosta, então beba. Hoje você não foge.
— Te agradeço pela parte de garçonete que você fez de me trazer até aqui, mas não quero.
— Não estou perguntando, Mag. Beba.
— Não quero!
— Você abandonou a gente quando começou a namorar aquele cara e agora você voltou. Sendo assim vai beber ou vou te levar para casa.
— Eu não preciso de você, nem de ninguém. Muito obrigada, vou embora sozinha.
Peguei minhas coisas, destranquei a porta e sai do bar a todo vapor. Entrei no carro e chorei por alguns segundos até que me dei conta de que a única coisa que eu queria era minha cama e meu conforto. Sei que eu estava bêbada e não poderia dirigir, mas eu iria devagar.
Eu iria, a não ser pela luz que preencheu todo o meu lado. Eu queria ter chegado em casa, faltava apenas três quadras. Eu queria ter ligado para o Slutt e pedido perdão pelo que fiz e falei. Eu queria o "nós" de volta, como sempre foi. Mas a última coisa que me lembro foi de um homem pedindo para que eu continuasse acordada. Eu estava tentando, mas... a luz... doía muito.
Não consegui abrir meus olhos, porém ouvia o barulho das máquinas muito de perto. Pessoas indo e vindo, colocando as mãos no meu pulso e gritos. Eu conhecia aquela voz.
— Deixe-me entrar, ela é minha namorada! Tenho esse direito.
Alguns passos um pouco pesados demais ecoaram perto de onde eu estava e uma respiração forte e ofegante se alojou ao meu redor.
— Me perdoe. Sei que fui um grosso e imoral, sei que te magoei. Mas você também não ficou atrás. Porque foi beber? Eu te disse, você não é assim, deixou de ser. Eu... Mag, não consigo entender.
E a voz de Slutt entrou em meus ouvidos como um mantra. Senti seu toque na ponta dos meus dedos e seu calor emanando para meu corpo. Tentei gritar mas ele não me ouvia. Chamava seu nome e ele não respondia.
— Faz três semanas já, e eu só queria que você acordasse. Mag... Acorda.
E tudo sumiu. A voz, o calor, o toque, os barulhos. Tudo. Meu peito explodia em dor e eu perdi todas as minhas sensações.
— Mag?
A luz irradiou meus olhos.
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