Não sei o que escrever, mas escrevi.


Não sei sobre o que escrever hoje. Mal humor, sabe? É que ultimamente tenho acordado assim com o pé esquerdo. Tenho pisado em toda casca de banana que encontro no meio do caminho, escorregando e dado de cara com o chão. Os búzios, os astros e essa casa astrológica não estão trazendo nada de bom pra minha vida, muito pelo contrário e eu nem sou supersticiosa.

Não sei sobre o que escrever desde o dia em que ouvi saindo da sua boca “eu te amo, mas não podemos ficar juntos” e até hoje me pergunto o que isso significa de verdade. Se bem que errado com errado dá mais errado ainda e talvez por isso você preferiu fugir em vez de apostar todas as suas cartas em algo que não sairia do lugar.

Não sei sobre o que escrever desde que assumi minha verdadeira personalidade sem medo de ser feliz, sem medo do que os outros iam pensar e perdi metade dos meus amigos, todos os meus familiares e um pouco da vergonha na cara que eu tinha.

Não sei o que escrever desde o dia em que resolvi que parar de beber era a melhor coisa que eu poderia fazer para “me curar” da gastrite, mas continuei bebendo mesmo assim, porque socializar as vezes parece ser mais importante do que se cuidar. Soa meio hipócrita certo? Mas, seria mais hipocrisia ainda se eu largasse o cigarro porque me disseram que dá câncer mesmo eu amando fumar.

Não sei o que escrever desde que resolvi que fazer um livro realizaria todos os meus sonhos e ai esgotei toda a minha criatividade só no prefácio. Então, esqueci todos os casais, os deuses, as rainhas e todas aquelas frases clichês feitas na minha cabeça e tive que recomeçar tudo do zero.

Não sei o que escrever, nem sobre o que escrever desde o dia em que na quinta série minha melhor amiga teve que se mudar de cidade e nós fizemos um pacto de sangue que dizia que jamais iriamos nos separar e um mês depois eu já nem lembrava direito o rosto dela.

Não sei o que escrever desde aquela tarde em que te olhei pela primeira vez e minha vida congelou. Bem ali, naquele momento eu sabia que tudo o que eu queria estava escondido entre o teu sorriso torto e a tua barba e quebrei a cara quando soube o quão canalha você realmente é.

Posso não saber mais o que escrever, nem porque e nem pra quem, mas continuo tentando. Pois, eu ainda sou aquela sonhadora que acreditou que o primeiro livro seria um sucesso nacional e nem terminou o primeiro capítulo. Ainda sonho que um dia câncer seja só mais um signo do zodíaco. Ainda faço o mapa astral do “crush” e vejo se a nossa sinastria se completa e sempre quebro a cara porque nunca dá certo. Ainda bebo e fumo e apesar de dizer que é pra socializar no fundo é porque eu gosto mesmo, gosto da minha cara boba de quando as drogas começam a fazer efeito e do quanto eu me abro com as pessoas depois disso.

Ainda não sei sobre o que escrever, mas acabei escrevendo sobre esse não saber.

Camila Leal, Colunista.

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