Entre os sussurros, ela dormiu


Ela sussurrou 'Cansei', tão baixinho que um sopro seria mais alto. Mas eu ouvi bem, entendi; eu li os lábios dela e compreendi. Enquanto ela olhava pro teto do quarto e enchia os olhos de lágrimas, tentando ser forte mais uma vez, tentando colocar na cabeça dura que era ela sempre e mais ninguém, e que isso teria que ser o suficiente.

'Eu não quero ser sozinha, mas cansei', disse passando as costas da mão na bochecha do rosto, tentando se livrar da lágrima gélida que escorria. E eu entendi o quão frágil aquela garota poderia ser por simplesmente querer alguém pra si. Querer só uma mão quente, um abraço longo e certo, um colo. 'Não dependo disso, mas eu quero' falou pra si mesma, como se estivesse se desculpando por querer atenção, por querer amor. 

Ela, ali, deitada naquela cama, olhando pro teto e tanto não soluçar; ela parecia tão frágil. 'Por favor', engasgou, e as palavras se misturaram ao choro doío 'eu não gosto de ficar sozinha', mordeu a boca e apertou os olhos. Gotas de água salgada escorreram molhando o lençol. 'Desculpa, eu cansei'. E depois de tanto sussurrar dormiu; dormiu pedindo à Deus o colo, o abraço, o conforto; dormiu pedindo à Mãe um anjo no qual ela não precisasse sentir medo. 

'Eu só quero sorrir', pensou. Amanhã ela acordaria com os olhos inchados e borrados, e olharia no espelho sua própria dor. Inflaria o peito e inflamaria o coração. Se não era necessário um corretivo, agora seria. Ninguém além dela precisava saber que doía, mas iria passar. Ah se iria, isso era uma promessa.


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