Brasil mostra sua cara. Por que precisamos levar o cinema a sério
O cinema
nacional já é bastante respeitado no exterior. Contudo, se observarmos ainda
lamentamos quando um filme brasileiro fica de fora do Oscar. Reclamamos quando
um ator ou atriz não obtêm o devido reconhecimento numa produção estrangeira.
Agora se pensarmos bem. Realmente o cinema brasileiro, precisa destes
“factoides” cinematográficos? Premiações que apenas servem de promoção para os
poucos privilegiados que adentram o sucesso de Hollywood. Grupos fechados, as
verdadeiras panelas. Pessoas interessadas em manter o caráter pretensioso das
produções norte americanas que pouco reconhecem o valor do cinema estrangeiro.
Entretanto, agindo como vira-latas, muitos brazucas (uhull), acabam despeitados
(provável que esse texto também o seja. Vai saber?), com aquele desdenho de
cobiça amarga na boca. Esse fato, ou situação, faz pensar. Por que tanto
desespero por ganhar algo que no fim se resume a um momento? Mesmo que digam
que está eternizado, ainda sim, só alguns minutos, (a memória das pessoas é
curta e filtra logo) sem mais.
Especialistas
da sétima arte afirmam ser interessante para projetar cinema brasileiro no
exterior. Outros para sair da dependência do governo e atrair incentivo privado.
Alguns consideram um feito histórico (pessoal que não manja, e prefere o
ufanismo). E claro, os vira latas, aqueles que cobiçam no momento e depois
esquecem até os títulos dos filmes. Particularmente, considero desnecessária
essa farra todos os anos para saber se o Brasil estará na "maior
festa" do cinema mundial.
Temos produções
consistente, filmes bem argumentados, e um estilo de linguagem cinematográfica
que antecipa e muito, o que é feito lá fora. Basta analisar filmes como:
"Que Horas Ela volta?", "O Auto da Compadecida",
"Tropa de elite 1 e 2", "Cidade de Deus", "Central do
Brasil", "Lisbela e o Prisioneiro", "Carandiru",
"O Vestido", "Estômago", "Abril Despedaçado",
"Deus e o Diabo na Terra do Sol", "A Ostra e o Vento" entre
tantos outros. Películas que fazem da poesia narrativa uma técnica sútil que
demostra de forma transparente o que cada personagem significa naquele contexto
apresentado. Sem plots exagerados, finais que se agarram no sensacionalismo
emocional, ou à velha formula americana de produzir em cima do herói e da
mocinha. Você reconhece o todo ao final dos filmes. Entendi as motivações, o
caráter dos personagens é complexo e leva uma carga cultural palpável. Não é só
tiros, gritos, explosões ou fantasias de uma ideia de perfeição. Os piores
filmes nacionais são aqueles que tentam replicar o cinema americano, que se
propõem a fazer ações que não conversam com a realidade, como um justiceiro ou
justiceira que na base da sorte consegue realizar um feito estúpido.
Temos uma
cultura rica, vários sotaques, talvez os melhores compositores e escritores, só
que preferimos vender a ideologia fútil e superficial dos blockbusters. Não que
eu não assista esse tipo de produção, não tenha nada contra o cinema
hollywoodiano. Só que parar e focar todos os esforços de cultura
cinematográfica que o país dispõe apenas por um filme, uma franquia, um
produto, ou prêmios. Acredito ser exagerado demais, mesmo estando falando de
uma indústria capitalista. Poucos são
os benefícios para sétima arte no país quando destinamos 1000 salas para um
filme americano, e dez (10) para cinco (5) filmes nacionais. Só que exigimos
prêmios. Somos hipócritas. O maior ganho para os realizadores desse filmes foi
terminar a produção. Todavia, o cinema brasileiro precisa de mais apoio, uma
distribuição que atenda a todos, não apenas nichos ligados a grande empresas
midiáticas. Reconhecimento pautado nos
ganhos que favoreçam o coletivo, premiações internas que valorizam o ideal
nacional de produção, mesmo sendo difícil afirmar qual seria. A base existe,
temos grandes mestres na arte de construir um indústria cinematográfica
nacional, todos com o famoso jeito brasileiro de resolver as dificuldades.
Exemplos com Glauber Rocha, Cacá Diegues, José Mojica Martins, Walter Salles
(mesmo que trabalhe mais lá fora), Anna Muylaert, Carla Camurati, Rogério
Sganzerla e uma infinidade de tantos outros que atuam no cinema independente
nacional. Todos lutaram ou lutam para levar o retrato mais fiel de nossa
cultura, sem artifícios fáceis para comover. Só uma grandiosa vontade de
abraçar a cultura desse país tão ingrato, que só reclama quando não se tem
premiação. Coisa de Brasil...
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emirbezerra
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