O abuso escondido pelo medo da verdade


Eu sempre quis falar sobre estupro, principalmente no mundo de hoje onde, infelizmente, temos um número crescente de abusos todos os dias. E hoje, decidi escrever sobre isso da forma mais profunda possível. Pode parecer um pouco chato, devido à quantidade de informação contida aqui e até mesmo os dados, mas por favor, caso você leia até o final, estará contribuindo com minha dor pessoal. Quer entender porquê?

Segundo a revista Exame (Editora Abril), em 2014, a cada 11 minutos, uma pessoa era estuprada no Brasil, isso equivale a quase 48 mil pessoas. Esses dados foram tirados dos boletins de ocorrência feitos pela polícia, o que gera em torno de 10% das denuncias. Ou seja, 90% não denunciam por muitos motivos: medo, culpa, pânico e, principalmente, família.

Mas aí você pensa "Meu Deus, como é que a família pode ser contra a denúncia de um estupro?". Isso é mais comum do que você possa imaginar. Cerca de 67% dos estupros são cometidos por parentes ou pessoas próximas e, 70% com crianças (!), e como eu já citei, apenas 10% é relatado. Com certeza você já ouviu notícias em que mães/pais ou parentes sabiam de casos de abuso e não denunciaram ou protegeram o acusado, e isso não é algo incomum, principalmente com pessoas que você talvez conheça.

Em vários casos a família tende a pensar que a vítima teve culpa por ter sido molestada, abusada, estuprada, entre tantas coisas. É uma roupa um pouco mais curta, é um sorriso tranquilo no rosto, é a falta de culpa (que graças a Deus muitas mulheres não sentem), é o namoro depois do estupro, entre outras coisas. Todos os atos que a pessoa, e no caso do exemplo, a mulher comete, é uma "desculpa" a mais para culpabilizar a mulher pelo estupro cometido à ela.

É difícil colocar na cabeça das pessoas que o pai delas abusou uma menina durante cinco anos enquanto ela era uma criança. Que o pai, o vô, o tio, molestou (e ainda o faz) uma menina que nem sabia o que ela tava fazendo porque confiava no tio. É difícil acreditar que uma pessoa que tem (aparentemente) uma vida maravilhosa, cheia de graça, com amigos homens e namorados, foi um dia, violentada sexualmente por um parente próximo até demais. É difícil acreditar que essa pessoa é sua melhor amiga, sua filha, sua sobrinha, sua prima. Que o molestador é seu pai, seu tio, seu avô (aham). É difícil.

Mas é difícil contar o abuso também. O receio da vítima é muito maior do que se parece. O medo de perder a família por ter o molestador inserido nela. O medo do julgamento, o medo da negação. 

Em 2014: "Pesquisa divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontou que 58,5% dos entrevistados concordaram totalmente ou parcialmente com a frase "Se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros". Em relação a essa pergunta, 35,3% concordaram totalmente, 23,2% parcialmente, 30,3% discordaram totalmente, 7,6% discordaram parcialmente e 2,6% se declararam neutros." (fonte)

Me pergunto eu, porque ainda é tão difícil lidar com o abuso? Porque tantas pessoas ainda protegem e culpabilizam a vítima, sendo que ela não teve culpa nenhuma? Porque culpabilizam a mulher do estuprador por não ter dado uma vida sexual maravilhosa à ele? É cômico de tão trágico.

E no fim de tudo eu digo pra vocês: o estupro destrói, mas faz da vítima (após superação) uma máquina de força gigantesca que ninguém pode ter noção da existência. Não duvidem que o estupro exista, porque ele existe e está mais perto do que se possa imaginar, com pessoas mais próximas do que há noção. 



Reflitam. Obrigada por ler até aqui. 

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