O verdadeiro Batman queria se apresentar? - Parte dois



Ironia: tudo faltou nessa trilogia. O terceiro filme só cimentou a tendência do diretor em tentar tornar o personagem complexo. Nada disso rolou, Bale se repetiu, o vilão mais uma vez roubou a cena, e no fim, tivemos que nós contentar com um Batman de roupas e brinquedinhos legais. Interessante mas, se ignorarmos a diversas falhas no arco de Nolan qualquer um com dinheiro poderia ser o herói. Por que lacunas, fácil. Uma empresa com tantos funcionários e somente um reconheceu o tumbler nas ruas. Um furo enorme da franquia que nem fizeram questão de explicar.  

Embora Nolan tenha construído mal o personagem principal em seus filmes, Bale não chegou a ser ridículo ou vestir uniforme de borracha e couro com mamilos. Val Kilmer e George Clooney no entanto, passaram por essa situação vexatória  interpretando Batman  nos filmes Joel Schumacher (aquele que pede desculpas nos extras de Batman e Robin pelo filme fraco). Val Kilmer assumiu em 1995 o papel do herói. Não teria sido difícil para o ator fazer um Batman vigoroso, doentio com aquele tom sombrio marcante das HQ’s. Basta lembrar de sua atuação como Jim Morrison no filme “The Doors”. De todos os atores que já fizeram o Batman, certamente ele era o mais capaz de fazer um Bruce Wayne fiel aos quadrinhos (fora o cabelo loiro). Bale é ótimo ator, mas não tem charme e nem impõem respeito sem mascará, isso é característica forte do personagem nos quadrinhos. Val Kilmer na época reunia tudo isso, mas não era Tim Burton que dirigia mais os filmes. Gotham ficou mais colorida, o enredo mais cômico e Robin foi introduzido no filme.

O problema não está apenas no roteiro e na produção, se fosse assim, poderíamos colocar que nenhum diretor conseguiu trazer um Batman honesto para telas. Opa! Esse fato também ocorreu, mas atores não podem ser apenas fantoches nas mãos do diretor. Nesse ponto Michael Keaton e Tim Burton formaram uma dupla perfeita. Parceiros em outros filmes, conseguiram trazer uma genuinidade no personagem que mesmo diferente dos quadrinhos desperta curiosidade.

Keaton colaborou muito com a construção da personalidade do herói nos dois filmes. Uma pequena olhada na filmografia do ator é suficiente para encontrar em diversos personagens vivido por ele o Batman de Tim Burton. Agora se pensarmos em Val Kilmer (Batman forever) e George Clooney (Batman e Robin), basta dizer que o uniformes eram ridículos e temos o exagero em frases clichês ditas por eles nos filmes. Isso demonstrou a dependência dos atores em relação ao roteiro e tornou as interpretações fracas.

Kilmer fez um herói mais sexy e o mais sem imaginação.  Clooney um Batman tiozão querendo se afirmar perante um jovem Robin, numa disputa para ver quem literalmente pegaria a vilã Hera venenosa. Não vou discorrer muito sobre George Clooney, ele pegou o barco andando, mas diferente de Kilmer não teve um roteiro brilhante ao seu lado. Outra fraqueza do filme que o ator participou, foi uma inventada Batgirl (o personagem existe nos quadrinhos, mas não é a sobrinha de Alfred em nenhuma das personificações) mas nesse filme só ocupa espaço e rouba tempo de cena. Aqui podemos destacar o grande mérito e fraqueza de Nolan, sabedoria ao utilizar os personagens secundários (talvez por isso Bale tenha se lascado).



Como assim mérito e fraqueza? Quando Nolan criou o universo de sua trilogia, buscou personagens que serviriam de apoio moral para o lado “mocinho” do Batman só que sem nenhuma profundidade. Fora Lucius Fox (Morgan Freeman) os demais personagens são aquilo: não convencem mesmo em situações de grandes emoções. Isso ocorre por que dentro do cinema é complicado você apresentar os dois lados da moeda de um personagem descrito como “bonzinho” na história. As falhas morais não são trazidas para explicar as motivações e emoções desses personagens. O ser humano, não é feito apenas de boas ações, por isso ficou falso demais o Gordon, a Rachel e o Alfred. O que os tornam previsíveis e simples alivio moral e cômico para um Batman fraco e sem foco. Todavia, os vilões eram bandidos comuns do nosso dia a dia, foram extrapolados, mas de alguma forma todos poderiam existir. Bane, Coringa, Duas Caras, Espantalho, quem nunca ouviu falar em monstros sociais como eles. Basta dar uma olhada em matérias policiais nos jornais, em livros sobre serial Killer ou assistir um documentário sobre terrorismo.  Todos estão descritos em detalhes nessas fontes. São fardos do nosso cotidiano, ignoramos, mas não quer dizer que não existem.

Nolan deve ter se inspirado e muito nesses personagens para dar vida a seus vilões. E como é sabido, o ser humano em grande parte gosta de saber sobre ações perversas. Por isso afirmo que o diretor acertou e errou quando construiu um núcleo secundário mais interessante que o mundo perfeito que Bruce Wayne estava inserido. Joel Schumacher no entanto, nem isso conseguiu, os personagens em seus filmes são jogados em cena, caricatos e com interpretações baseadas em cara e bocas. Eu até hoje penso como George Clooney e Val Kilmer entraram nessas roubadas. Outra qualidade dos filmes de Burton onde a briga do herói com o vilão principal é o foco, mesmo com outros personagens importantes da mitologia do cavaleiro das trevas nos filmes. Você sabe que Gotham é um lugar corrupto, de pessoas interesseiras, hipócritas e banais. Todas as ações dos filmes de Burton, convergem ao antagonismo principal, mesmo uma sexy Mulher Gato, não rouba a cena. Você não quer saber dela, que saber o próximo passo do vilão e a reação do mocinho. Simples assim.

E aqui entra o mérito de Keaton em relação aos demais atores que deram vida ao Batman no cinema. Ele consegue equilibrar o dualismo do personagem. Consegue trazer um Bruce Wayne perturbado e um herói que fará de tudo para acabar com seu inimigo, independente do que o cerca. Por que o Batman de Burton não liga para as pessoas, tem pena delas e considera-se superior a elas. Busca a própria idéia de justiça.

Agora o Batman de Joel Schumacher é só o riquinho vaidoso querendo atenção e com medo de não ser o mais importante de todos. Basta observar que em ambos os filmes tudo para ele é uma mísera disputa pela atenção da mulher desejada. Mesmo em Batman forever, com um Charada (ponto alto do filme) buscando conhecimento absoluto. O Batman ainda tem na figura feminina seu grande calcanhar de Aquiles. E não é porque as personagens sejam marcantes, são estúpidas presenças para amaciar o ego do cara. Não valoriza nenhum pouco a mulher num possível cenário romântico. É pura conquista que se torna irrelevante para a história. A presença das personagens é meramente ilustrativa, mesmo a Hera Venenosa, de Uma Thurman, consegue ser descartável. Um gancho para briga entre Batman e Robin. E no caso do Batman de Christopher Nolan, a motivação deveria ser a morte dos país mas, essa parte da mitologia do personagem se perde em meio a inúmeras tentativas de sustentar uma personalidade complexa. O diretor esqueceu de apresentar o anti-herói por trás do Batman.


São propostas diferentes, mas o herói continua sendo o mesmo e a história gira em torno dele. Por isso a comparação exaustiva entre os atores. Poderíamos comparar os Coringas, os Banes, os Duas Caras e as duas Mulheres Gato. Só que esses vilões só vieram ao mundo por que o Batman existe antes deles.  Nunca uma história em quadrinho partiu do vilão para o herói de forma inédita.  Em 2017 teremos um novo ator interpretando Batman, Ben Affleck. Conhecido por ser excelente como diretor e  mediano em suas atuações, o ator é alvo fácil de criticas do fã do Batman (agora teremos um herói descente, é só com critica que esse povo trabalha) mas ele ignorou qualquer tentativa de menosprezo a seu trabalho. Sua interpretação para o personagens ainda é uma incógnita, sabemos apenas que ele terá o Superman com antagonista no começo do filme, será manipulado e ocupara o papel de segundo herói. Pode ser que o fato do herói não ser o protagonista traga elementos ainda não explorado no cinema desse personagem como: Sua capacidade de luta, sua capacidade de espionagem e a violência excessiva apresentada em algumas HQ,s. Quem sabe?

Emir Bezerra, Colunista.

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