Uma velha casa...
Que tal um conto meio depressivo nessa quarta? Aqui vai um de minha própria autoria para vocês. Não fiquem depressivos depois de ler!
fonte: we heart it |
Uma velha casa em cima de um alto monte. O céu, ao invés do azul magnífico de todos os dias, estava cinza. Ninguém imaginava o que se passava ali, mas o cenário estava perfeito.
Uma moça. Um caderno. Uma mesa. Um copo. Remédios, cordas, lâminas e livros. Muitos livros, todos espalhados pelo chão. Alguns com folhas arrancadas, outros ainda fechados. Sobre a mesa estavam o copo, os remédios e as lâminas meio que deixadas de lado, o caderno, um tinteiro, uma caneta.
O ar estava pesado. Cheiro de morte, fome, dor, sangue. Porém há anos que ninguém passava ali. Há anos, ninguém se importava com o que acontecia ali. Alguns viajantes, ao se aventurarem por aquelas bandas, chegavam a seus destinos assustados, assustados pelos gritos. Os gritos da moça. Alguns dizendo que era um lugar mal assombrado, já outros diziam apenas que era coisa da imaginação das pessoas. Ninguém sabia da moça, aquela pobre moça que morava ali. Sozinha, com seus pensamentos e seus desejos suicidas.
Completamente sozinha com sua vontade de se mutilar, se machucar e se fazer sofrer.
Cada grito, cada sussurro, cada pesadelo, cada palavra daquela menina era uma espécie de súplica. Súplica por companhia, por carinho, por afeto.
Sempre esteve tão sozinha que se esquecera de como era abraçar ou falar. Eram apenas ela e seus livros, seus cadernos, seus medos. Mas algo estava diferente aquela tarde. Algo tinha mudado dentro dela.
O tempo retratava exatamente como estava a sua alma, conturbada e vazia. E todas aquelas lâminas deixadas de lado seriam usadas em breve pela última vez. Ou, se ela mudasse de ideia, talvez usasse os remédios, mas isso era improvável.
Enquanto escrevia aquela única palavra, sentia as lágrimas molharem o seu rosto, sentia o peso da solidão invadindo cada vez mais a sua alma. Após tantos anos se matando pouco a pouco, ela finalmente resolvera dar a "tacada final".
Estava na hora. Fechou seu caderno, bebeu seu último gole de água. Pegou a maior lâmina que tinha sobre a mesa. Suspirou. Foi até a janela, queria ver pela ultima vez o céu. A lua, os pássaros... Só que nada estava lá, o céu estava exatamente como a sua alma, conturbado e vazio.
Pela primeira vez ela se sentiu feliz. Não porque estava pondo um fim ao que um dia desejou ser um alegre campo florido, mas por finalmente cessar. Tanto a dor passaria, quanto a iminente loucura que adentrava seu peito, rasgando sua pele e dissipando seu coração.
Então, finalmente esticou o braço e fez um único corte, profundo o suficiente para que o sangue, ao invés de escorrer, jorrasse e se foi. Enfim, acabou com a sua agonia. Naquela tarde em que até o céu foi capaz de sentir a sua dor.
Camila Leal, Colunista
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