Chatham, 12 de Dezembro de 2011.
Querida
Sophie,
Quase um mês se passou desde aquela primeira carta e não
obtive uma resposta sua. Eu sei So, sei que não tenho o direito de exigir-te
nada, nem mesmo uma resposta a uma simples carta, mas é que durante todos esses
dias que se passaram eu fiquei ouvindo teu nome em meus pensamentos e
imaginando um milhão de situações que envolvessem você.
Pergunto-me se ainda tens as mesmas malditas manias. Você
ainda fuma querida? Porque desde o dia em que você partiu eu comecei a fumar,
eu comecei a tomar tuas manias para mim. Na intenção de esquecer-te eu acabei
tornando-me um viciado em cigarros e céu. Por falar em céu, você viu como a lua
estava ontem So? Tão esplendida, arredondada e dourada, dourada como teus
cabelos. E enquanto eu observava o céu lembrei-me daquele dia em que te vi
escrevendo sobre o ele pela primeira vez e lembrei-me que era algo assim “eu
que não posso ser céu, tornei-me poesia” e sabe querida, eu não tinha entendido
aquelas palavras, não tinha até hoje.
Ah querida, hoje quando olhei para o alto, para imensidão
azul acima de minha cabeça veio até mim um lapso de compreensão sobre o teu
desejo de ser céu, sempre céu. Hoje entendo esse teu desejo de ser um gigante
solitário e sei que para isso você teve de abrir mão de muita coisa e ainda
terá de abrir mão de tantas outras. Mas, sabe o que me doeu? Sabe So? Doeu
saber que a primeira coisa da qual você abriu mão fui eu, eu, logo eu fui seu
primeiro e mais fácil sacrifício. Não posso dizer-te que me senti honrado com
isso, muito pelo contrário, porque nunca me passou pela cabeça abrir mão de
você, nunca, nunquinha mesmo e me doeu quando em percebi o quanto foi fácil
para ti me deixar. Longe de mim querer julgar-te, você não errou só, eu errei
também, eu quis te prender So, eu quis e me arrependo tanto, pois, quem sou eu
perto de você? Quem sou eu para querer impedir que o mundo veja essa coisa
esplêndida que você é? Eu fui à sombra que bloqueou a sua luz, fui eu quem
apagou o brilho dos teus cabelos, fui eu So, eu sei, fui eu.
Mas então, diga-me, você conseguiu? Conseguiu se tornar céu
So? Conseguiu ser só? Porque eu como seu primeiro e talvez único sacrifício não
gostaria de ter sido deixado de lado em vão, não por egoísmo, por ser
egocêntrico, ou seja, lá o que você possa estar pensando de mim é só por não
querer perceber que signifiquei tão pouco, quase nada na verdade.Também não
gostaria de saber que você desistiu de nós por nada e nem que deixou de ser
poesia para ser céu, apesar de céu ser poesia e querida, essa foi mais uma das
tuas malditas manias que roubei, pois a partir do momento que tu ter tornastes
céu eu, logo eu que nunca fui verso nem rima, transformei-me em poesia.
Rich.
Camila Leal, Colunista.
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