Toretto, o novo poderoso chefão?

Não é de agora que a franquia “Velozes e Furiosos” esqueceu os carros e começou a priorizar a família. Já no primeiro filme se notava a tendência do anti-herói, Dominic Toretto (Vin Diesel), em proteger os amigos e manter um código de honra perante os inimigo. Todo o discurso do personagem tinha como proposta mostrar um líder que tinha, naquele mundo da velocidade, a própria fortaleza. Para isso era necessário manter uma aura poderosa em torno dele. Nesse caso o mundo do “tunning” caiu como uma luva. Grande sensação no fim da década de 90 e inicio dos anos 2000, a modificação de carros, teve seu auge nesse período. Velozes e furiosos embarcou nesse sucesso da indústria automobilística e consolidou seu principal protagonista. Toretto é marrento, arrogante, sincero e muito carismático. Sua postura firme e opinião inflexível o tornam um líder, não nato, mas por mérito.



O personagem não nasceu em berço de ouro, perdeu a figura familiar mais forte (pai) num incidente cheio de controvérsias. Isso o tornou amargo com relação a confiar no ser humano. Testa todos para saber até onde vai a lealdade da pessoa. Exige não menos que o melhor de quem o cerca. Até aceita falhas, porém a relação de confiança se perde. Durante os seis filmes que o personagem esteve presente, a menção feita a ele sempre foi com respeito. Até mesmo na cena final do terceiro filme da franquia existe um estigma de poder atribuído a Toretto. Ninguém lhe nega um pedido, transita pelo mundo das corridas clandestinas como um lenda viva. Um objetivo a ser alcançado por todos, representa nessa instância a perfeição.

Algo semelhante dentro do cinema, e com certeza base de inspiração para a personagem e Don Corleone. É fácil perceber a relação em quatro principais pontos. O primeiro e o mais simples: o nome Dominic. Toretto em várias situações foi chamado de “Don”. Não preciso dizer mais nada. Segunda: a irmã protegida por ele a todo custo, mas que se envolve com o inimigo. Terceiro: Brian O Conner (Paul Walker), desde o começo da relação entre os personagens, existe uma atmosfera de pai e filho. Toretto parece sempre esta ensinando um sucessor. O único de quem ele aceitou a traição e continuou confiando. Até mesmo aceita a ideia de ser derrotado na pista pelo ex-policial. Brian se tornou não apenas o marido da irmã dele, mas um filho. É sutil essa relação, pode ser confundida como uma grande amizade. Entretanto, como já coloquei, ele admite não erro dos amigos. Já com Brian é diferente. Por último: a família. Dentro do universo de “Velozes e Furiosos”, ao qual Toretto pertence, existem dois núcleos. Amigos de pista e corridas e a família. Pessoas próximas a ele, que gozam de sua confiança. Nesse núcleo ninguém representa melhor o filho que Brian. O sucessor, aquela pessoa que pode dar continuidade à um legado.

Vin Diesel não pode ser comparado à lenda ‘Marlon Brandon’, porém sua tentativa de transformar Toretto num ícone cultural vem dando certo. A franquia já conta com sete filmes e também é a mais lucrativa do Estúdio Universal. O carisma do ator é inegável. A presença de cena dele ofusca os demais. Porém, recentemente Paul Walker faleceu devido a um acidente de carro. Esse fato nos leva ao detalhe mais importante da franquia toda, que deixei para mencionar no final. O ator sempre utilizou os demais como escada. Mesmo com todo o porte físico e postura altiva, a construção dos personagens que o cerca é muito elaborado. Toretto não mudou em nada desde o primeiro filme. Seus grandes méritos são: ser bom atrás do volante e um grande estrategista.  Qualidades que o tornam o líder que atrai talentos para sua volta.  Dispostos a fazer tudo para ajudá-lo a preservar a família.

O personagem interpretado pelo ator Paul Walker, por sua vez, era a base mais forte para evolução da franquia. Toretto até tinha a relação mais interessante com Brian. Todo o discurso de família ganhou força sobre os ombros desses personagens. Agora no sétimo filme, veremos as últimas cenas dessa relação pai e filho. Ainda quando estava vivo, Paul Walker havia comentado sobre uma oitava continuação. O sucesso do próximo filme é garantido (as pessoas curtem ver gente morta, o Batman concorda comigo). Depois será com Vin Diesel e sua jornada para se afirmar como o novo poderoso chefão, só que sem o filho. 

Emir Bezerra, Colunista.

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