Susto ou sinal?


Ao anoitecer, saindo da biblioteca, passei em casa, tomei um banho, me arrumei. Me senti outra pessoa, me senti mais vivo, me senti mais animado para encarar a vida, parecia que tudo estava fazendo sentido agora. Era mais ou menos 21hs aqui em Londres, Marcia essa hora já deveria estar se arrumando e quase pronta para o nosso encontro. Sai de casa, fui a pé mesmo, fumando uns cigarros, pensando em como seria essa noite ao seu lado. Mas o engraçado que as vezes as coisas acontecem sem ao menos perceber, acontece sem ao menos darmos devido atenção, escutei barulho de tiros, parecia que o tiro tinha sido em mim, de tão perto que estava. Andei mais um pouco para frente, observando ao redor para ver se eu conseguiria pelo menos ver algo sobre o acontecimento e do nada vejo um cara correndo na minha direção com uma arma na mão e me acertou dois tiros também, ambos no meu peito. Nessa hora eu não entendia nada do que estava acontecendo, perguntas rodeavam minha cabeça, “ele me acertou? Por que? O que eu fiz de errado?” e tudo foi escurecendo, a única coisa que eu pensava era “vou morrer? E minha vida? Marcia? Mas chegou a minha hora?” e tudo escureceu.
Esse homem que me acertou se chamava Thomas Adam, era fugitivo da polícia, ladrão de merda, roubava os outros pra manter seu vício em cocaína. Que merda, um filho da puta que poderia muito bem manter o seu vício trabalhando honestamente, sem precisar matar ou roubar alguém que trabalhe o mês todo para se manter. Thomas não me roubou, apenas se assustou em me ver, quando roubava uma casa na rua do meu bairro e acertou os dois tiros no meu peito, tenho as cicatrizes até hoje, as balas estão alojadas perto do meu coração, mas não corro risco de vida.
Acordei no hospital era mais ou menos 17hs, perdido, não sabia, não lembrava, não entendia nada sobre o que acontecera. Olhei ao meu lado e vi Marcia dormindo, sentada, segurando minha mão, estava com a mesma roupa que ia sair na noite passada, coitada, não deve ter ido pra casa nem pra tomar um banho pelo menos, deve ter ficado sabendo sobre o acontecimento e viria correndo. Continuei ali tentando juntar as partes do que a minha mente tinha guardado, não conseguia entender nada, só lembrava dos barulhos do tiro e eu caindo, sem ver o rosto daquele filho da puta, maldito. Por que ele fez isso? Sim, estou com raiva, pois estragou meu dia, o dia de Marcia, a nossa noite. Marcia acordou, me viu acordado e esboçou uma felicidade, me deu um beijo e disse que ficou muito preocupada comigo, disse que ficou com medo de que eu morresse e a deixasse. Senti que a minha missão na terra ainda não havia terminado, eu tinha algo mais para fazer. Dei a um abraço, um beijo e disse que estava feliz em vê-la, em saber que não ia ficar longe dela também.


Conto enviado pelo leitor João Pedro Sanches

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