Um idiota para a vida toda
Quarta-feira. 29 de junho. 2016.
A dois dias atrás a gente teve a pior briga. Eu bebi demais, fumei demais, extrapolei e deixei ela se sentindo um lixo. Mas no momento da briga eu estava sóbrio. E, nossa, eu fui o maior imbecil do mundo e ela com certeza merece alguém melhor. Mas… o pior é que eu sei que o melhor não vai amar ela como eu. Posso ser o cara mais "filho da puta" que existe, mas não tem ninguém que ame a Mag dessa forma.
Voltando, eu estava no banquinho sentado e um senhor de bengala se aproximou e sentou ao meu lado. Ele me olhou e deu um sorriso manso e eu retribuí. Era óbvio minha cara de quem chorou durante horas e era óbvio que ele havia percebido isso.
Pigarreou.
— Você está bem, meu jovem? — eu apenas consenti. Ele parecia olhar preocupado. Então deu uma risada leve — É, o amor faz isso com a gente mesmo. — o olhei curioso e ele estava olhando para uma menina de cabelos louros e branca como a neve brincando no parque.
— O que o senhor quer dizer com isso?
— Você chorou por amor e está mal por amor. Ou está mal por não saber se é amor. — é, realmente. — Foi briga?
— Sim. — olhei para baixo para conter a vergonha.
Ele suspirou. — Quer contar o que houve?
— Eu fiquei bêbado e fumei muito. Prometi a ela que não fumaria mais e beberia razoavelmente. Eu prometi que não ficaria bêbado. Entende? — ele consentiu e continuou me olhando, como se pedisse para que eu continuasse, e assim o fiz. — Ela é linda. Eu sou um idiota, sabe? Eu a amo de uma forma inexplicável, ou acho que amo. Sei que amo, mas eu tenho um jeito otário de ser, com ela, apenas com ela.
— Entendo.
— Depois da briga, juntei umas coisas e sai de casa. Antes do elevador se fechar ela correu e me olhou. Eu vi as lágrimas escorrendo do seu rosto sem força alguma. Ela olhou para o chão e sussurrou “eu te amo” e o elevador fechou. Ela não me ligou. Foi a primeira briga que ela não me ligou no dia seguinte. Era para estarmos fazendo quatro anos hoje. Eu queria saber porque a trato tão mal.
— Vê a garotinha loura? — consenti. — É minha neta. Eu me vejo em você, jovem. Eu era exatamente o que você é. Mas eu a amava, e amo, de uma forma que não se explica, muito menos se entende.
— É isso! — ele riu.
— Sim. Quer descobrir se a ama pra toda vida? — consenti novamente. — É uma tarefa difícil, meu caro, mas creio que a ama e creio que vai passar fácil por essa.
— Era para ela estar comigo. Era para irmos para a Disney. Eu prometi a ela, eu comprei as passagens. Iríamos amanhã. Eu estraguei tudo. Eu a deixei chorando. E eu sei que agora, ela está se entupindo com aqueles chocolates. — ele riu.
— Quer a dica?
— Sim.
— Pode parecer loucura, porém tenho idade e não lhe diria algo sem ter uma razão. Vá a um bordel.
— A um o quê? — arregalei os olhos, pasmo com o que ele havia dito.
— Você entendeu, rapaz. — ele riu. — Vá e peça pela melhor puta da casa. A mais cara e mais linda. A mais procurada e disputada. Vá e você saberá se a ama.
— Como?
— Se a ama, saberá. — ele sorriu.
— Não conheço bordeis. Não frequento esses lugares. Ela era tudo, sabe? Ela era… minha puta na cama e ninguém sabe ser melhor que isso.
— Minha senhora costumava ser assim. Que Deus a tenha. — eu o olhei e ele olhava para o céu sorrindo. Eu não saberia como deveria ser a dor de perder Mag, mas se ficar dois dias longe dela já me matavam, imagina a vida toda. Eu preferia não pensar.
Ele tirou um papel e uma caneta do bolso e começou a escreve, depois me entregou.
— Aqui. — era um endereço e eu entendi de que se tratava. — Está aberto, pode ir. Quanto mais cedo descobrir, mais rápido voltará para os braços do teu amor.
Eu me levantei e antes de ir para o endereço o olhei. Ele não estava mais lá. Ele havia sumido e a garotinha, sua neta, também. Eu não temi nada. Fui em direção a um ponto de táxi e o peguei. Entreguei o endereço ao motorista e ele riu.
— A tarde vai ser boa. — eu não comentei.
Olhei a aliança dourada na minha mão direita e a tirei, colocando-na em meu cordão, depois dentro da camisa.
O táxi parou em frente do bordel e eu entrei. O interior era vermelho e com muitas luzes. Vários rapazes estavam na borda do palco colocando notas de dinheiro nas cintas das mulheres que dançavam. Eu não conseguia sentir prazer ao ver a garota semi-nua dançando.
O cheiro do lugar era de wisky barato e muito perfume masculino. Me sentei em um puf bem no fundo do salão e esperei alguma garota vir até mim. Em menos de um minuto uma garota de cabelos negros e olhos tão azuis quanto o céu apareceu. Ela sorriu e se sentou do meu lado.
— Quanto?
— Duzentinho. — consenti e ela pegou na minha mão e me levou até as escadas. Subimos e fomos andando por um corredor até ela parar na frente duma porta e abri-la. A cama era redonda e o quarto era idêntico a um de motel barato.
Se sentou na cama e cruzou as penas. Estava de espartilhos ligados a meia e uma calcinha fio dental. Ela sorriu para mim.
— O que quer?
— Tente algo comigo. — ela estranhou e depois pensou ser uma brincadeira, creio eu, porque sorriu maliciosamente e veio até mim.
Meu pescoço foi o alvo da sua boca. Suas mãos apertaram minha barriga e ela levantou a blusa. Não arranhou, porém foi descendo a mão. Ela beijava meu pescoço loucamente e quanto mais sua mão descia, mais eu me enojava.
O rosto de Mag vinha a todo momento na minha cabeça. A última vez que a vi. Seus olhos cheios de lágrimas dizendo eu te amo, eu te amo, eu te amo. Não suportei e empurrei a mulher. Tirei 200 reais da carteira e joguei no chão.
— Obrigado.
— Mas eu nem fiz nada.
— Fez, fez tudo. Obrigado. — abri a porta do quarto e desci as escadas correndo.
Sai do bordel e vi a chuva se aproximando, tirei a aliança do cordão e coloquei em meu dedo, beijando-a.
— Eu tô chegando. — sussurrei como se ela pudesse me ouvir.
A chuva começou a cair forte e quanto mais eu corria, mais eu sentia meu corpo pesar com a roupa molhada. Faltava dois quarteirões e eu já estava ficando ofegante. Tirei a blusa e joguei ela numa lixeira. Cheguei na portaria ensopado e pedi para o porteiro abrir. Ele abriu e eu entrei.
— Ei senhor, por onde andou? Faz dois dias que não o vejo.
— Estava viajando. A Mag está lá em cima?
— Não a vi saindo, está sim, quer que eu ligue?
— Não! Não é necessário, preciso de um banho. — olhei para minhas roupas e ri ele também. — Obrigado.
Por sorte o elevador estava no saguão e eu entrei nele desejando que subisse como um jato para o nosso andar, que por um acaso, era o ultimo, 11º.
Quando ele parou, sai correndo e endureci em frente à porta. Apertei a campainha uma vez e nada. Apertei de novo e vi pelo vão da porta as luzes se acenderem. Ela estava vindo abrir. Senti o cheiro dela e sabia que ela se aproximava. Era noite já, não o bastante pra ela estar dormindo, mas era noite e eu sabia que ela tinha olhado pelo olho mágico.
— Eu sinto sua respiração, Mag. Abre. — ela cedeu e abriu. Seu rosto estava inchado de tanto chorar, creio eu, e eles se arregalaram ao me ver ensopado.
— Tomou chuva?
— Sim, olha só presta atenção em mim, tá? — ela ficou calada olhando nos meus olhos. — Hoje faz quatro anos. E… eu fui no parquinho, naquele que você dizia que ia levar nossos filhos porque acha super higiênico e perfeito para crianças. — ela sorriu. — Então, eu estava lá e um senhor chegou em mim e falou tanta coisa que me deixou até… ah, eu não sei como explicar. Contei a ele o que houve, — ela me olhou assustada novamente, eu não era de contar nada a ninguém, quanto mais à um estranho — e não se assusta, ele me deu uma puta confiança. Ok, eu contei e ele me falou para ir a… ai Mag, ele me disse para ir a um bordel. Disse que eu tiraria minhas dúvidas em relação a nós, ao meu jeito com você. — ela não se assustou com o bordel, nem fez nenhuma cara, mas continuou prestando atenção e eu prossegui. — Ela era linda. Muito, mas eu não senti atração, nenhuma. Tinha outras garotas lindas lá também mas o cheiro delas… Olha Mag, pode se tratar de putas mas são mulheres e em casos assim, nós homens, sempre as procuramos pra nos sentirmos bem. Maggie, o que eu quero dizer é que… eu não consigo, não posso e não quero nenhum dia, minuto ou segundo, ficar longe de você. Que você pode estar com os peitos no joelho, — ela riu — que eu vou te amar mais. Você pode ser a velha mais chata do mundo, que eu vou te amar mais. Entende?
— Entendo.
— Desculpa por ser o cara mais imbecil do mundo.
— Você não vai deixar de ser imbecil, Slutt.
— Eu sei.
— Mas olha, eu amo sua imbecilidade.
— Ama? — eu sorri arregalando os olhos.
— Amo sua idiotice também. Amo você assim, mesmo… ah, é teu jeito, eu entendo e olha, estamos aqui.
— E?
— E que sempre vai ser assim, Slutt. A gente vai brigar, eu vou chorar e você vai ver o erro que cometeu e vai voltar e pedir desculpas, porque cá entre nós, você nunca quer falar nada, mas sempre fala por raiva do momento. Eu conheço você. Aceito teu jeito.
— Me aceita de volta?
— Você nunca se foi. — ela sorriu e eu a abracei e a beijei. — Agora vai tomar um banho, você precisa. — eu ri novamente e entrei em casa. Comecei a tirar a roupa e fui para o banheiro. Fechei a porta e me lembrei que eu tinha que dizer uma coisa à ela, antes que esquecesse.
Abri uma frecha na porta e gritei: — Mag?!
— Oi?
— Se prepara porque hoje a gente vai fazer um Slutt Junior.
Slutt e Mag, fora dos padrões
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