Um idiota para a vida toda

Quarta-feira. 29 de junho. 2016. 


Não era um dia normal nem para mim, nem para ela. Era para nós estarmos fazendo quatro anos hoje. É muito tempo! Mas eu estava sentado no banquinho da praça, olhando as crianças nos brinquedos. Isso dava uma "puta" vontade de ter filhos com ela. Mas eu juro que nesses quatro malditos anos, eu nunca deixei ela faltar um dia sequer com os remédios. 
A dois dias atrás a gente teve a pior briga. Eu bebi demais, fumei demais, extrapolei e deixei ela se sentindo um lixo. Mas no momento da briga eu estava sóbrio. E, nossa, eu fui o maior imbecil do mundo e ela com certeza merece alguém melhor. Mas… o pior é que eu sei que o melhor não vai amar ela como eu. P
osso ser o cara mais "filho da puta" que existe, mas não tem ninguém que ame a Mag dessa forma. 
Voltando, eu estava no banquinho sentado e um senhor de bengala se aproximou e sentou ao meu lado. Ele me olhou e deu um sorriso manso e eu retribuí. Era óbvio minha cara de quem chorou durante horas e era óbvio que ele havia percebido isso. 
Pigarreou.
— Você está bem, meu jovem? — eu apenas consenti. Ele parecia olhar preocupado. Então deu uma risada leve — É, o amor faz isso com a gente mesmo. — o olhei curioso e ele estava olhando para uma menina de cabelos louros e branca como a neve brincando no parque. 
— O que o senhor quer dizer com isso?
— Você chorou por amor e está mal por amor. Ou está mal por não saber se é amor. — é, realmente. — Foi briga? 
— Sim. — olhei para baixo para conter a vergonha. 
Ele suspirou. — Quer contar o que houve?
— Eu fiquei bêbado e fumei muito. Prometi a ela que não fumaria mais e beberia razoavelmente. Eu prometi que não ficaria bêbado. Entende? — ele consentiu e continuou me olhando, como se pedisse para que eu continuasse, e assim o fiz. — Ela é linda. Eu sou um idiota, sabe? Eu a amo de uma forma inexplicável, ou acho que amo. Sei que amo, mas eu tenho um jeito otário de ser, com ela, apenas com ela.
— Entendo.
— Depois da briga, juntei umas coisas e sai de casa. Antes do elevador se fechar ela correu e me olhou. Eu vi as lágrimas escorrendo do seu rosto sem força alguma. Ela olhou para o chão e sussurrou “eu te amo” e o elevador fechou. Ela não me ligou. Foi a primeira briga que ela não me ligou no dia seguinte. Era para estarmos fazendo quatro anos hoje. Eu queria saber porque a trato tão mal.
— Vê a garotinha loura? — consenti. — É minha neta. Eu me vejo em você, jovem. Eu era exatamente o que você é. Mas eu a amava, e amo, de uma forma que não se explica, muito menos se entende.
— É isso! — ele riu.
— Sim. Quer descobrir se a ama pra toda vida? — consenti novamente. — É uma tarefa difícil, meu caro, mas creio que a ama e creio que vai passar fácil por essa. 
— Era para ela estar comigo. Era para irmos para a Disney. Eu prometi a ela, eu comprei as passagens. Iríamos amanhã. Eu estraguei tudo. Eu a deixei chorando. E eu sei que agora, ela está se entupindo com aqueles chocolates. — ele riu.
— Quer a dica?
— Sim.
— Pode parecer loucura, porém tenho idade e não lhe diria algo sem ter uma razão. Vá a um bordel.
— A um o quê? — arregalei os olhos, pasmo com o que ele havia dito.
— Você entendeu, rapaz. — ele riu. — Vá e peça pela melhor puta da casa. A mais cara e mais linda. A mais procurada e disputada. Vá e você saberá se a ama.
— Como?
— Se a ama, saberá. — ele sorriu.
— Não conheço bordeis. Não frequento esses lugares. Ela era tudo, sabe? Ela era… minha puta na cama e ninguém sabe ser melhor que isso.
— Minha senhora costumava ser assim. Que Deus a tenha. — eu o olhei e ele olhava para o céu sorrindo. Eu não saberia como deveria ser a dor de perder Mag, mas se ficar dois dias longe dela já me matavam, imagina a vida toda. Eu preferia não pensar. 
Ele tirou um papel e uma caneta do bolso e começou a escreve, depois me entregou.
— Aqui. — era um endereço e eu entendi de que se tratava. — Está aberto, pode ir. Quanto mais cedo descobrir, mais rápido voltará para os braços do teu amor. 
Eu me levantei e antes de ir para o endereço o olhei. Ele não estava mais lá. Ele havia sumido e a garotinha, sua neta, também. Eu não temi nada. Fui em direção a um ponto de táxi e o peguei. Entreguei o endereço ao motorista e ele riu.
— A tarde vai ser boa. — eu não comentei. 

Olhei a aliança dourada na minha mão direita e a tirei, colocando-na em meu cordão, depois dentro da camisa. 
O táxi parou em frente do bordel e eu entrei. O interior era vermelho e com muitas luzes. Vários rapazes estavam na borda do palco colocando notas de dinheiro nas cintas das mulheres que dançavam. Eu não conseguia sentir prazer ao ver a garota semi-nua dançando.
O cheiro do lugar era de wisky barato e muito perfume masculino. Me sentei em um puf bem no fundo do salão e esperei alguma garota vir até mim. Em menos de um minuto uma garota de cabelos negros e olhos tão azuis quanto o céu apareceu. Ela sorriu e se sentou do meu lado.
— Quanto?
— Duzentinho. — consenti e ela pegou na minha mão e me levou até as escadas. Subimos e fomos andando por um corredor até ela parar na frente duma porta e abri-la. A cama era redonda e o quarto era idêntico a um de motel barato. 
Se sentou na cama e cruzou as penas. Estava de espartilhos ligados a meia e uma calcinha fio dental. Ela sorriu para mim.
— O que quer?
— Tente algo comigo. — ela estranhou e depois pensou ser uma brincadeira, creio eu, porque sorriu maliciosamente e veio até mim. 
Meu pescoço foi o alvo da sua boca. Suas mãos apertaram minha barriga e ela levantou a blusa. Não arranhou, porém foi descendo a mão. Ela beijava meu pescoço loucamente e quanto mais sua mão descia, mais eu me enojava.
O rosto de Mag vinha a todo momento na minha cabeça. A última vez que a vi. Seus olhos cheios de lágrimas dizendo eu te amo, eu te amo, eu te amo. Não suportei e empurrei a mulher. Tirei 200 reais da carteira e joguei no chão.
— Obrigado.
— Mas eu nem fiz nada. 
— Fez, fez tudo. Obrigado. — abri a porta do quarto e desci as escadas correndo.
Sai do bordel e vi a chuva se aproximando, tirei a aliança do cordão e coloquei em meu dedo, beijando-a.
— Eu tô chegando. — sussurrei como se ela pudesse me ouvir. 
A chuva começou a cair forte e quanto mais eu corria, mais eu sentia meu corpo pesar com a roupa molhada. Faltava dois quarteirões e eu já estava ficando ofegante. Tirei a blusa e joguei ela numa lixeira. Cheguei na portaria ensopado e pedi para o porteiro abrir. Ele abriu e eu entrei.
— Ei senhor, por onde andou? Faz dois dias que não o vejo. 
— Estava viajando. A Mag está lá em cima?
— Não a vi saindo, está sim, quer que eu ligue?
— Não! Não é necessário, preciso de um banho. — olhei para minhas roupas e ri ele também. — Obrigado. 
Por sorte o elevador estava no saguão e eu entrei nele desejando que subisse como um jato para o nosso andar, que por um acaso, era o ultimo, 11º.
Quando ele parou, sai correndo e endureci em frente à porta. Apertei a campainha uma vez e nada. Apertei de novo e vi pelo vão da porta as luzes se acenderem. Ela estava vindo abrir. Senti o cheiro dela e sabia que ela se aproximava. Era noite já, não o bastante pra ela estar dormindo, mas era noite e eu sabia que ela tinha olhado pelo olho mágico.
— Eu sinto sua respiração, Mag. Abre. — ela cedeu e abriu. Seu rosto estava inchado de tanto chorar, creio eu, e eles se arregalaram ao me ver ensopado.
— Tomou chuva?
— Sim, olha só presta atenção em mim, tá? — ela ficou calada olhando nos meus olhos. — Hoje faz quatro anos. E… eu fui no parquinho, naquele que você dizia que ia levar nossos filhos porque acha super higiênico e perfeito para crianças. — ela sorriu. — Então, eu estava lá e um senhor chegou em mim e falou tanta coisa que me deixou até… ah, eu não sei como explicar. Contei a ele o que houve, — ela me olhou assustada novamente, eu não era de contar nada a ninguém, quanto mais à um estranho — e não se assusta, ele me deu uma puta confiança. Ok, eu contei e ele me falou para ir a… ai Mag, ele me disse para ir a um bordel. Disse que eu tiraria minhas dúvidas em relação a nós, ao meu jeito com você. — ela não se assustou com o bordel, nem fez nenhuma cara, mas continuou prestando atenção e eu prossegui. — Ela era linda. Muito, mas eu não senti atração, nenhuma. Tinha outras garotas lindas lá também mas o cheiro delas… Olha Mag, pode se tratar de putas mas são mulheres e em casos assim, nós homens, sempre as procuramos pra nos sentirmos bem. Maggie, o que eu quero dizer é que… eu não consigo, não posso e não quero nenhum dia, minuto ou segundo, ficar longe de você. Que você pode estar com os peitos no joelho, — ela riu — que eu vou te amar mais. Você pode ser a velha mais chata do mundo, que eu vou te amar mais. Entende?
— Entendo.
— Desculpa por ser o cara mais imbecil do mundo.
— Você não vai deixar de ser imbecil, Slutt.
— Eu sei.
— Mas olha, eu amo sua imbecilidade.
— Ama? — eu sorri arregalando os olhos.
— Amo sua idiotice também. Amo você assim, mesmo… ah, é teu jeito, eu entendo e olha, estamos aqui. 
— E?
— E que sempre vai ser assim, Slutt. A gente vai brigar, eu vou chorar e você vai ver o erro que cometeu e vai voltar e pedir desculpas, porque cá entre nós, você nunca quer falar nada, mas sempre fala por raiva do momento. Eu conheço você. Aceito teu jeito.
— Me aceita de volta?
— Você nunca se foi. — ela sorriu e eu a abracei e a beijei. — Agora vai tomar um banho, você precisa. — eu ri novamente e entrei em casa. Comecei a tirar a roupa e fui para o banheiro. Fechei a porta e me lembrei que eu tinha que dizer uma coisa à ela, antes que esquecesse.
Abri uma frecha na porta e gritei: — Mag?!
— Oi?
— Se prepara porque hoje a gente vai fazer um Slutt Junior.


Slutt e Mag, fora dos padrões 

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