Um dia especial
Tinha
dias que Marcia ia me visitar na biblioteca, lia todos os tipos de
livros, era bem culta, tinha um vocabulário bem rico em palavras e
eu sentia nela um enriquecimento literário. Ela dizia que desde que
chegou em Londres, em 1985, não parara mais de ler e lia muitos
livros em suas horas de almoço ou vagas enquanto estava em casa de
bobeira. Como eu não sabia o que poderia dar de presente a ela,
pensei em um de minha autoria, que não foi publicado ou sequer
vendido. Eu havia escrito ele e deixado em minha prateleira pra quem
sabe um dia ir atrás de alguma editora. Esse livro se passava no
Brasil, era a historia de três homens que se perdera no mundo e não
conseguira mais voltar pra casa, escrevi essa historia bêbado, fiz
essa proeza e acho que por isso escondi esse livro mas resolvi dá-la
de presente, mas com certeza fiz uma surpresinha antes.
Marcia,
faz aniversario no dia 03 de abril e nesse dia ela iria trabalhar
pois não poderia perder o dia por que precisava muito do dinheiro.
Então acordei bem cedo, deixei Marcia dormindo em minha
cama. Chamei-a para dormir em casa ontem pois eu havia tido uma ideia
brilhante e que ela iria gostar. Corri até uma floricultura mais
próxima, eram duas quadras da minha casa e comprei um buque de
margaridas, aqui na Inglaterra é chamada de “Daisy”, por que tem
uma expressão “day’s eye” que significa olhos do dia pois ela
se fecha ao anoitecer e abre novamente quando o sol nasce. Comprei um
buque bem bonito, bem florido e vivo, fui até a padaria mais próxima
que era praticamente do lado da floricultura e comprei um bolinho,
tipo um bolinho de caneca. Corri novamente ao apartamento e chequei
se Marcia estava dormindo e estava, ufa, conseguirei preparar sua
surpresa. Fui até a cama e dei-lhe um beijo e voltei a cozinha para
preparar nosso café da manha. Queria tornar aquele dia inesquecível
não só pra Marcia, preparei um café com torradas, como de costume
e fui acorda-la, dei vários beijos e apertões esperando que ela
acordasse e assim que ela sentiu o calor do meu corpo, me deu um
sorriso e eu fui cantando parabéns com a bandeja com o café e mais
um bolinho com uma vela em cima, Marcia esboçou uma cara muito
engraçada, começou a rir sem parar e a gritar, disse que não
esperava por isso e me puxou pra cama junto dela. Aprendi com meus
anos de vida, que não há mais nada gratificante pra quem gosta
muito de ler, que seria ganhar um livro. Fui até a minha estante,
peguei o livro todo embrulhado, bem bonito e dei a ela. Quando Marcia
abriu e viu que era um livro de minha autoria, deu um pulo em meu
colo, me beijando sem parar, gritando alegremente, sem duvidas, isso
está sendo o dia mais feliz de nossas vidas.
Lembrei-me disso assim que sentei no mesmo banco da praça que
sentávamos antes, estou com meu cachorro, Bruce. Bruce era um Akita,
branco, tem 5 anos de idade e em pé fica quase da minha altura e ele
tem sido meu companheiro a muito tempo aqui na Inglaterra, encontrei
ele em um salvamento que fiz em uma casa, quando trabalhei na policia
daqui, coitado, estava sozinho no meio daquela casa pegando fogo.
Mas, isso eu já conto.
Levei
Marcia até o seu trabalho, todos lá também cantaram parabéns e
deram um bolo de presente, ela estava muito feliz, eu via em seus
olhos que esse dia, não esquecerá tão cedo. Eu fui dar uma volta
na cidade, queria reservar uma mesa em algum restaurante muito bom de
Londres pra fecharmos esse dia com chave de ouro. Fiz uma reserva no
restaurante Marianne, onde a especiaria da casa era comida francesa,
um lugar bem arrumado, acho que Marcia iria gostar.
Conto enviado pelo leitor João Pedro Sanches
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