Os erros na adaptação de Crepúsculo


O cinema está se tornando cada vez mais repetitivo, seja na escolha de enredos, seja nas obras adaptadas e até mesmo na busca incansável pelo lucro exorbitante. A sétima arte não está vivendo o melhor momento para roteiros originais. Todos os anos uma nova franquia literária é levada as telonas. Entretanto esse casamento sempre existiu. Grandes clássicos do cinema vieram da literatura, Tubarão (1975), Blade Runner (1982), Clube da luta (1999) e Exorcista (1973) são apenas alguns exemplos. Contudo, são textos obscuros, uma boa parte dos apreciadores de cinema desconhece essas obras. O que por um lado torna à adaptação muitas vezes mais fácil. Sem se preocupar em seguir à risca o que está nas linhas e sem a preocupação do que os fãs acharão. Liberdade que há muito se perdeu na decisão de levar uma franquia para o cinema. Existem várias versões para todas as histórias. Afinal de contas, a culpa não é só das crianças (hahahaha). Podia discorrer aqui sobre inúmeros motivos que tiraram do diretor a liberdade criativa durante a produção do filme. Não é o caso, falar de agentes externos requer um tempo de texto maior. 

Essa dependência pode parecer recente, depois de Harry Potter (1997) e Senhor dos Anéis (1954), todo texto fantasia tem espaço para ser adaptado. Acabaram-se os critérios de valor textual, simplesmente tem fã, vai para o cinema. Com as Hqs está acontecendo quase a mesma coisa. Porém, nesse caso, usa-se pouco das histórias, e muito das referências e ícones. Todavia, não é nova essa busca por sagas literárias que ofereçam potencial retorno financeiro. O silencio dos Inocentes (1991) é o segundo livro da série criada por Thomas Harris. O filme ganhou Oscar, houveram continuações, mas nenhum com sucesso semelhante. Assim sendo, adaptar séries literárias não é nenhuma novidade. Apenas o que parece ter mudado foi a qualidade dos textos escolhidos. Por que afirmar esse ponto? Simples (fazia tempo, que era não simples), Crepúsculo (2008). Utilizei a franquia como base argumentativa para a crítica porque engloba tudo de ruim e emblemático nas atuais adaptações para o cinema.  


Como mérito nas telonas podemos destacar: O sucesso de bilheteria de cada filme. O fato da franquia ter lucrado mais de U$ 3 bilhões, talvez a mais lucrativa da história do cinema em termos de custo de produção e lucro gerado. Todos as produções custaram pouco mais de U$ 370 milhões (fonte: Box Office Mojo). São números grosseiros, já que o valor real de lucro ou custo nunca é passado, uma vez que envolve todo o merchandising entre outras questões logísticas. E maior visibilidade para filmes de baixo orçamento. Então, por que falar dessas produções? Mesmo tendo um redundante sucesso, nenhum dos filmes entrará para história do cinema como obra clássica. Recente afirmar esse detalhe? Não, por dois motivos. Com o tempo decorrido desde o lançamento do último longa, os críticos passaram a menosprezam a serie como um todo. Isso é efeito da dependência excessiva no texto. Existem elementos interessante na construção dos personagens, aspectos notáveis, mudou-se de forma clara um ícone da literatura. Nunca pensaram em tratar o vampiro daquela forma, sempre foi o vilão. Expandiram o potencial dessas criaturas ao status de quase deuses, que podiam tudo.  Mas, tudo isso ficou em segundo plano, sem muito aprofundamento, pensou-se apenas no que era bom para vender. Não inovou, ficou presa as conformidades textuais, e as exigências de um mercado de fã. Crepúsculo não é rico em detalhe como Senhor dos Anéis, não tem trama elaborada como Jogos vorazes ou Harry Potter. Cabia ao cinema, usar o que existia de melhor nos livros e transformar em algo memorável como aconteceu em o Iluminado (1980). 

Aqui entra o segundo ponto, mesmo os fãs da série nos livros, talvez por antipatia aos atores reclamam dos filmes. Alguns argumentam que perdeu a essência da obra, que a cara de um não é legal. Outros afirmam que foi muito mal trabalhado o processo de transposição do personagem para o cinema, etc. Agora, todos esquecem o que movimenta o entretenimento. A sétima arte também é fonte de riqueza para inúmeros estúdios. Nenhum filme sai do papel sem potencial para dar lucro. Porém, obras originais ou pertencentes a nichos, muitas vezes não garantem esse retorno. Um exemplo é o filme John Carter (2012), o filme literalmente é um dos maiores (se não o maior) fracasso da Disney nos últimos anos. Com orçamento estimado em U$250 milhões o estúdio não conseguiu nem pagar o custo de produção. Ocasionando uma série de demissões. Nessa brincadeira toda, com dúvidas relacionadas a lucro, adaptação, originalidade (onde?) e fã, a arte em si parece perder mais do que dinheiro. 


Perde na essência, na inventividade, na busca por romper paradigmas. Tudo isso em prol do lucro. Em 1975, quando fizeram Tubarão não existia o blockbuster. O sucesso foi inusitado, um absurdo para as pretensões dos diretores. Depois desse arrasa quarteirão, começou a se pensar no lucro como única forma de qualificar um filme. O tempo passou e a formula se desgastou e depois alguns fracassos de crítica, como: O Espetacular Homem Aranha, Percy Jackson e Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos a febre em adaptar tudo quanto for franquia teen para o formato blockbuster se tornou algo dependente do resultado do primeiro longa-metragem. E aqui entra Crepúsculo (2008), com orçamento de U$ 37 milhões, e lucro de mais de U$ 390 milhoés, fez as coisas caminharem de forma inusitada, pois seu efeito não foi apenas nas franquias para adolescente, mas sim na ideia de lucra com baixo orçamento. Jogos Mortais (2004) já tinha feito algo parecido, Mad Max (1979), outro filme barato que lucrou muito. Contudo, nenhum dessas peliculas criaram o que classifico como os pecados da franquia de vampiros. Textos rasos, falta de camada na personalidade dos protagonistas, construção de enredo baseado no óbvio, heroismo desenfreado sem logica de existir e claro o romance. Esse último fator, prepoderante no cinema desde sempre, só que agora parece ser a linha de racionicio inicial para trabalhar  uma frannquia cinematografica. Tudo virou amor, sem isso não existi historia, e o mundo não será salvo. 

Ganhou-se muito com os filmes de baixo orçamento. Só que a pressa alinhada a vontade de lucrar, fez surgir aberrações cinematograficas sem pretensão a qualidade. Infelizmente, nesse quesito, Bela e companhia são os vitoriosos, com enormes ganhos dentro e fora das salas de cinemas. Em cada lançamento o que se assistia era uma piora nos roteiros, porém, fatumento alto. Não melhorou a forma de contar as historias trazidos nos livros, apenas produziram. Podemos dizer que são filmes B, com a notoridade alçada em seus seguidores. No entanto, temos que pensar naquela pergunta simples. Quem é o culpado? Não são as estrelas (hahahha). O público que aceita qualquer porcarria sendo adaptada, ou o estudios que esqueceram o conceito de arte, e passaram a tratar atores, diretores e roteiristas como parte de uma engrenagem para um fim, dinheiro. Nesse ponto, a franquia Crepúsculo literalemnte matou todas as qualidades do cinema. Muitos vão dizer que filme fraco sempre existiu. Mas, nada se tornou um fenômeno que deixou a pior cicatriz na historia da sétima arte. Fazer porcarria utilizando apenas a marca de uma franquia. 

EMIR BEZERRA, COLUNISTA

Share:

0 comentários