Próximo passo


Aproveitei a brecha do sistema da favela, corri para longe. Eu e minha mala, apenas. Deixei meus pais pra trás, senti que estava na hora de criar asas e voar pra bem longe dali. Não queria ser do crime, não queria andar com um fuzil na mão e morrer a qualquer momento. Não. Minha vida é mais que isso, não tenho planos ou metas mas ali eu não queria continuar minha vida e, foi então que acabei vindo para Londres, vim fugido do meu passado, do meu medo de continuar naquele lugar, onde a calada da noite era muito mais sombria que qualquer filme de terror, onde a qualquer momento você poderia ser morto por nada.
Chegou o dia do concurso, estava muito preparado, sentia que dessa vez eu acertaria o rumo da minha vida. Primeiro dia, tinha muitas questões de história local, caiu muita história de Londres, sobre a participação da Inglaterra na Primeira e Segunda Guerra Mundial e mais a Guerra Fria. Caiu bastante raciocínio lógico e nisso minha cabeça travava, sou péssimo com pensamento rápido. Caiu também, direitos dos cidadãos e leis nacionais. Marcia também estava muito esperançosa para esse curso, num dia anterior ficamos em casa, pedimos pizza e resolvemos assistir vários filmes só para descansar um pouco a mente, estudei muito e precisava passar. Marcia resolveu colocar uma camiseta minha, ficou só de calcinha, ah, isso me deixa louco. Toda vez que ela vem para casa, ela decide colocar uma camiseta larga minha e ficar só de calcinha, bendito seja o homem que tem um corpo só pra si, e eu sou esse sortudo. Sou eu o sortudo de ter seu sorriso pra mim. De ter seu carinho, seu amor, tudo, só para mim. Já fazia mais ou menos uns cinco meses que estávamos juntos e parecia que eu a conhecia a muito tempo, tínhamos uma cumplicidade que era fora do normal e isso me deixava muito feliz. Sabia cada parte do seu corpo, cada pinta, cada curva.
Segundo dia de concurso era a avaliação física, tinha que correr 15 km, fazer várias flexões em 3 tipos de barras e logo em seguida era avaliação em grupo, tínhamos que correr e revezar os bastões e isso foi muito bom, acabei fazendo mais amizades que eu acharia que fizesse. Conheci o Marcos, Fernando e Carlos, cada um tem uma vida muito diferente um do outro e isso eu vou relatar, cada um teve um tipo de superação, cada um veio de um lugar da terra.

Terceiro dia de avaliação era social, onde o avaliador, que era o Tenente Shindler, nos deu horas e horas de palestras sobre a política policial e cara, que saco ter que ouvir esse blá blá blá todo durante horas. Queria estar atrás desses vagabundos que acham que podem roubar as pessoas e saírem ilesos, bando de filho da puta. Isso não vai ficar assim.

Texto enviado pelo leitor João Pedro Sanches.

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