Seria só mais um ano.


João detestava final de ano. Para ele, não existia essa de “happy new year”, era tudo jogada de marketing de grandes marcas para vender mais e endividar pobres de alma a procura de algum conforto. Ele detestava a massa com suas blusas brancas, amarelas e verdes, aquilo não significava nada. O barulho dos fogos a meia noite lhe causa ânsia.

Seria só mais um ano desgraçado, para quê festejar? Pessoas morreriam, aviões cairiam, Israel continuaria em guerra, a tecnologia avançaria nenhuma novidade razoável para ele. Talvez João morresse e seu nome estaria estampando uma lápide com os dizeres “um grande amigo”, ou melhor, “um grande nada” isso soaria bem mais real, porém ele não acreditava que as pessoas fossem ser tão bondosas assim e nem que teria sorte o suficiente para morrer. Nenhuma catástrofe aconteceria a ele e bem, era covarde demais para acabar com a própria vida. “Nem pra isso sirvo!”, pensava ele ao lembrar-se do suicídio que tantas vezes planejara e na hora H havia desistido.

A contagem regressiva já estava para começar, então João sentou-se em sua cama com sua garrafa de vinho barato, tragando um cigarro barato. Colocou Jake Bugg para tocar no máximo em seus fones de ouvido e abafar o barulho dos fogos de artifício que se seguiriam. E quando deu meia noite, apesar da data odiosa, apesar de não acreditar em nada, desejou baixinho que nesse ano não fosse covarde para dizer o que lhe doía dentro do peito e tivesse coragem para realizar todos os seus planos e vencer seu medo: da morte.


Camila Leal, Colunista.

Share:

0 comentários