Você sempre foi a minha, Mag


Era algum dia de janeiro, sexta ou sábado, não me recordo. O calor era insuportável e, mesmo ao anoitecer, era difícil querer ficar longe de um ar condicionado. Eu estava deitado na cama, tentando imaginar onde ela poderia estar, com as amigas no bar, com os amigos ou sozinha. Era difícil decifrar Mag, mas eu tentava, em vão.

Fui até a cozinha pegar um copo d'água gelado para ver se meu corpo parava de queimar um pouco, foi ai que o telefone tocou. O número era desconhecido mas suspeitei que fosse ela me ligando. Meu sexto sentido tinha quase certeza disso. E eu não errei. Quando atendi a respiração dela falhou quando tentou não chorar. Ouvi o barulho do nariz que ela fazia para tentar diminuir a coriza e senti uma dor desgraçada no peito. 

Tentei chamar pelo nome dela mas minha voz saiu tão fraca e baixa que eu não tinha certeza se ela havia ouvido. Pigarreei e tentei novamente falar seu nome. Então ela chorou. Desembestou a cair no choro e chamar pelo meu nome. Foi ai que ouvi o elevador parar no meu andar. Ainda com o celular na mão, andei até a porta e a abri. Vi Mag saindo do elevador com os olhos borrados e vermelhos em decorrência do choro excessivo. 

Deixei o celular na mesa ao lado da porta e corri até Mag ao mesmo tempo em que ela escorregava para sentar-se no chão. Ajoelhei-me em sua frente e puxei-a para meu peito tentando confortá-la de algo que nem eu mesmo sabia o que era. Talvez eu devesse me confortar, também. Não era o caso. Ela sempre foi muito estourada e muito sem noção, dizia o que pensava e não parava para pensar nas consequências disso. 

Levei-na para dentro e a deitei na cama. Ela bebeu água e se acalmou. Fora expulsa de casa porque não conseguia mais suportar a pressão de não ser livre, de estar tão fora das normas imposta pela família e do medo. Tentei entender de que medo ela falava e eu percebi. Eu tinha uma porcentagem de culpa nisso. Não me lembrava do dia de Mag brigou com os pais, só esperava que ela ficasse bem, porque nada nem ninguém conseguia mudar a forma de amor que ela sentia pela família. 

E no meio dos meus pensamentos ela soltou: "Mas você também é minha família". E ai, eu me perdi.

Contos de um casal fora dos padrões.

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