Uma historia hollywoodiana de faz de conta
Sabe aquela piada que seu amigo insiste em contar para não ficar sem
assunto. Aquela história, que sua avó contava toda as noites de
forma repetitiva, para convencer a criança que olhava para ela que
tudo era verdade. Fantasmas existem, Papai Noel virá no Natal e caso
você seja desobediente Deus castiga. Hoje, podemos dizer que o mundo
do cinema se tornou esses faz de conta. Todos os anos são lançados
filmes medíocres que lucram milhões, e ótimos filmes que são
esquecidos pela massa entusiasmada para entender a sétima arte.
Porém, o cinema que lhes é apresentado, é uma constante
reformulação do modelo, começo, meio e fim. Príncipe, princesa e
bruxa.
Não é de ontem que o cinema esqueceu o sentido das palavras: Arte,
original, independente, criativo, etc. Somos levados as salas escuras
e desconfortantes dos minis cinemas escondidos dentro de shopping
para ler o livro chato na tela. Apreciar a visão distorcida do
heróis das linhas que tanto alimentou a nossa imaginação. E
descobrir que na verdade somos apenas peça de uma engrenagem sem
sentido de existir. Uma unidade motriz, que fomenta o romance, o
espetáculo e o culto pelo dinheiro.
Contudo, essa crise de identidade parece ter chegado a seu ápice no
Oscar desse ano. Grandes estrelas ignoradas, antigos astros
ressuscitados e novos herdeiros do show alçados ao estrelato para no
dia de amanhã serem desprezados. A vitima da vez: O "Super
Herói" e seu ego milionário. Hollywood gosta do dinheiro que
os "blockbuster" arrecadam, mas não reconhece as qualidade
dessas produções, prefere premiar a piada fraca e o filme medíocre.
A premiação de 2015, já entrou para a historia por conta do
ativismo iniciado pela atriz Patricia Arquette ao receber o premio de
atriz coadjuvante pelo filme "Boyhood". Por sinal o único
do filme, que era apontado como favorito por muitos. Esse momento,
talvez o mais verdadeiro da celebração. Depois visivelmente tivemos
discursos adaptados, pedidos de lutas exaltados de forma nada
convincente, o velho e bom oportunismo. Entretanto não podemos
esquecer, o reconhecimento da indústria cinematográfica americana
ao piegas, bobo e falsa procura pela originalidade perdida nos
primórdios da década de 60.
Filmes como: "Birdman", "Teoria de tudo", "Jogo
da Imitação", "Boyhood", estavam representando ao
lado de o "Grande Hotel Budapeste" o que tina de melhor
naquele momento nas telas dos cinemas. Esse último filme por sinal,
o verdadeiro astro da noite que ganhou reconhecimento técnico, porém
estamos falando de ousadia. Nada que fosse reconhecido naquela noite.
Os demais filmes, excelentes produções, porém, a mesma historia
que sua avó contava, a mesma piada sem graça e o mesmo pecado que
puni. Nesse caso, não o telespectador, mas sim Hollywood, que
esqueceu o fator humano, e apenas empurra marcas. Sejam elas
embutidas em nomes de heróis, ou capas de livros.
Outro fato que marcou a noite, a hipocrisia, ao conceder os
principais prêmios ao filme "Birdman", somente uma frase
pode descrever essa ação da academia: Não adianta ser grande, você
tem que ser medíocre. Utilizo o Oscar como referencia, por que é o
termômetro, o norte para muitos que apenas assistem filme. Sem o
dever apreciar ou entender, tudo pelo entretenimento. Esse público
por sinal, sem nome ou rosto. Para os reis da sétima arte, apenas
são ignorados. No fim da noite, depois da festa, o brinde desse ano,
vai para uma mulher que lembrou a única coisa persistente. A
diferença social. O roteiro mais original, escrito no papel
amassado, depois em gargantas secas foi repetindo sem a mesma
verdade, sem nenhuma razão, apenas para seguir a lógica do mercado
cinematográfico. Contar a mesma historia, sem a mesma qualidade.
EMIR BEZERRA, COLUNISTA.
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