Eu a matei!


— Não acho certo você deixar seus amigos de lado para ficar comigo. Nós temos uma bola relação — pause para pensar no que eu mesma havia dito — agora. Então tudo bem.

— Mag, não quero me distanciar de você agora que tudo está tranquilo, que nos acertamos definitivamente. Não acho justo isso.

— A vida não é justa. Saia com eles, vou dar uma volta com as garotas, tudo bem?

Consenti ainda achando tudo aquilo loucura. Ela podia sair comigo e com os caras, isso não impedia nada, mas ainda assim ela insistia que eu precisava do meu tempo. Não queria concordar mas preferia fazer isso para não brigar.

Era quase onze horas da noite e eu precisava de um tempo para ligar para Mag só para poder aliviar a culpa e a saudade. Mas antes eu tinha de levar um dos garotos embora. Tudo bem, só mais alguns minutinhos e eu ouviria a voz dela.

Eu estava a apenas alguns metros do próximo sinal e ele iria fechar. Como era sexta e a casa do garoto estava próxima, decidi ter cautela e ir mais devagar, já que eu estava em uma descida. Mas algo horrível aconteceu. 

Um dos meninos que estava no carro derrubou uma latinha de cerveja debaixo do pedal do freio. Isso impossibilitava que eu conseguisse frear o carro fazendo com que ele acelerasse cada vez mais. Estava desgovernado. Temi pelo que poderia acontecer e eu estava certo em temer.

Atravessei o sinal vermelho e senti o impacto do carro. O efeito chicote do cinto provocou em mim uma dor absurda e quase insuportável no pescoço. Tentei recordar os sentidos e tirar todos do carro, para poder socorrer as pessoas do outro automóvel. Eu só esperava que ninguém tivesse se machucado. 

— Todos estão bem? Saiam do carro e liguem para a emergência! Vou socorrer as pessoas do outro automóvel.

Saí do carro com a testa machucada e na panturrilha um ferimento exposto. Aquilo poderia esperar. a motorista do gol veio em minha direção com os olhos cheios de lágrimas pedindo socorro porque sua amiga não respondia. Tentei acalmá-la e depois me dei conta que era uma das amigas de Mag.

— O que.. o que você.. Mag! — eu entrei em pânico — A Maggie estava com vocês, por favor diz que ela não está mais!

— SLUTT É ELA QUE ESTÁ NO CARRO, NO BANCO DE TRÁS — eu havia acertado o carro na parte lateral direita, bem em cheio com o passageiro que estivesse do lado de trás.

— Mag... — minha voz falhou e eu me vi num filme de horror. Meus movimentos se tornaram lentos demais, eu não conseguia alcançar a porta — CHAMEM UMA AMBULÂNCIA PELO AMOR DE DEUS!

Abri a porta e me deparei com uma imagem diferente daquela que eu havia visto naquela tarde. Os cabelos loiros de Mag estavam avermelhados por causa do sangue e ela estava esticada no assento. Talvez o cinto a tenha salvado, talvez a tenha matado. 

Ela não me respondia e meu desespero aumentava em decorrência da demora da ambulância. Tinha medo de abraçá-la e machucá-la, mas eu não conseguia entender. — Mag... me ouve amor, por favor! — eu não conseguia segurar a inundação que surgia em meus olhos.

A ambulância chegou. Eles a retiraram de lá e encheram-na de aparelhos. Tentei segurar sua mão mas estava mole... sem força, sem vida.

— Mag... eu te matei. 

Contos de um casal fora dos padrões.

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