Nem sustos, nem gritos. O fim do terror no cinema.


Sustos repentinos, dramas exagerados, atuações medíocres, uma premissa interessante e a mão leve dos diretores que não arriscam. Podemos resumir assim, os atuais filmes de suspense e terror hollywoodiano. Fora isso, temos a reciclagem de ideias antigas, como é o caso do remake de Poltergeist, que será lançado no dia 23 de junho desse ano. Uma formula aparentemente desgastada ou preguiça de fazer algo novo? As duas coisas. Como todos os gêneros de filmes, temos a fórmula desgastada e também à preguiça de criar algo fora do usual, da moda, resumindo: Parar de pensar que o público é burro.
Diferente do que ocorria nas décadas de 60 e 70, onde a postura do público e alcance do cinema era maior, a inteligência e liberdade dos diretores criaram verdadeiros fenômenos. Filmes que até os atuais são exaltados como os melhores filmes de terror e suspense. A lista começa lá no inicio da década de 60 com “Psicose” (1960) de Alfred Hitchcock, passa por filmes como, “O exorcista” (1973), “A Profecia” (1976), “O Bebê de Rosemary” (1968) até o clássico “Halloween” 1978 de John Carpenter. Produções que trouxeram inovações na linguagem, na construção do elemento antagonista, na escolha de temas, que para época eram tabus. Como por exemplo: Possessão demoníaca de criança. Detalhes, que fizeram esses filmes se tornarem destaques, renovando os gêneros.
No entanto, venho a década de 80, muita coisa se inventou, reinventou, repetiu e no fim, foi esquecida. Na década de 90, a coisa entrou pelo caminho mais “gore”. O terror se tornou mais crível, mas com sua pitada de exagero, principalmente no tange ao ser humano apresentado. O cinema inovador nesses gêneros estava fora do “mainstream”. Nada que passasse despercebido. Contudo, a repetição, o mal da década de 80, tornou as mais interessantes ideias em algo banal. Matar era um detalhe de pouco impacto. O romance, o herói, as piadas, falhas introduzidas durante a década anterior, tornaram-se parte da cartilha básica para despertar medo nos fãs de cinema na última década do século 20.
Porém, tudo pode piorar. Nos anos 2000, essa máxima ficou corriqueira. Muitas inovações foram trazidas para o gênero. A principal delas, “footage”. Filmes que se apoiavam na ideia de vídeo encontrado, para apresentar um fenômeno sobrenatural, ou atos de violência. A série “Atividade Paranormal” iniciada em 2007 é o expoente desse subgênero em termos de bilheteria. No entanto, Bruxa de Blair de 1999, foi o filme que promoveu essa linguagem de suspense/terror. Outro fato triste para esses gêneros. Não se podia mais fazer uma distinção clara entre, terror e suspense. Ficou simples o roteiro, mas lucrativo o produto final. Assustar, assustar e assustar. Nada de novo, há décadas essa sensação é despertada no apreciador da sétima arte. Entretanto, mesmo nos primórdios do cinema com trem dos irmãos Lumière, quando a ingenuidade ainda era presente na audiência, o susto era mais verdadeiro. Agora, nem a melhor propaganda de marketing causa cala frios, ou tira o riso da face das crianças que no escuro discutem a roupa da protagonista, a cara do mocinho, ou a forçada cena de erotismo. Que também, não comove. Bom, está ai outro gênero que se banalizou, só falta ocupar salas de cinema comercial. O estilo footage, já se estabeleceu o pífio roteiro sem sentido, com falas pobres, também, assim como a pornografia da tortura. É só tirar essa ultima palavra. Sem sustos, a luz apagou, o filme começou, hora de dormir.
EMIR BEZERRA, COLUNISTA

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