2085, onde até o ar têm seu valor.

fonte: we heart ir
“As árvores eram lindas. Quando vinha um vento forte, ou até mesmo fraco batia em suas folhas elas farfalhavam”, eu fechava os olhos tentando imaginar aquele mundo desconhecido que o meu avô estava a contar-me.
“Os passarinhos faziam seus ninhos nos galhos das arvores, e lá eles colocavam seus ninhos e assim nasciam mais passarinhos. Sabe aqueles animaizinhos que voam? Eu lhe mostrei nas fotos”, eu balançava a cabeça para lhe dizer que sim, sabia o que eram passarinhos.
O mundo que meu avô descrevia parecia muito, muito distante.
Quando eu nasci as geleiras já estavam derretidas. O ar já estava empestado de gases poluentes, e se você não quisesse ser perseguido até a morte, tinha que pagar certa quantia ao governo, para assim, ter direito a respirar.
Meu avô me disse que na sua época respirar é algo gratuito e que era um absurdo que algo necessário à vida fosse transformado em algo de luxo que nem todos podiam obter. E os que não podem obter, morrem.
Ele me disse que meu pai tivera um pouco de sorte, pois, durante sua infância pode pescar, soltar pipas, comer algo sem conservantes e/ou agrotóxicos. Ele ainda teve sorte de poder ver pássaros, sapos, peixes e outros animais.
Já eu, nascera quando tudo isso se tornara extinto. Não que realmente estivesse extinto, mas, o Governo mantinha isso em reservas. Reservas secretas incapazes de serem encontradas.
No ano em que nasci eles tinham acabado de começar a cobrar pelo Oxigênio. Também tinham proibido a pesca, a caça, ou qualquer atividade relacionada com animais, até porque, eles já não “existiam”.
Daqui há um mês eles vão começar a racionar a água, alegam que os recursos hídricos do país e do mundo estão se esgotando.
Meu avô me disse que antes as pessoas tinham piscinas, iam à praia com a família e amigos e tomavam banhos de mar. Fico imagino como isso seria possível. Não consigo imaginar um mundo diferente desse, onde pessoas e natureza podem se relacionar, pois, nasci e cresci privado de contato com a natureza, já que a natureza já não existe.
Daqui há alguns anos eu estarei adulto, mas, ainda sonharei com o mundo que meu avô me contou. Ensinou-me. Com o mundo que ele fantasiou para mim e para ele próprio.
Pergunto-me se meus futuros filhos terão pelo menos a chance de imaginar, ou, serão privados até disso.
Pergunto-me se a culpa realmente fora do homem, ou, se a natureza simplesmente se cansara e resolvera ir embora.
“Usávamos água de forma impensada. Jogávamos lixo nas ruas. Pensávamos que tudo era eterno estávamos enganados. Os mais religiosos afirmavam que Deus era bondoso e que por isso os recursos naturais nunca acabariam, mas, eles estão cada vez mais escassos”, os homens eram egoístas, concluo comigo mesmo.
Será que eles não pensaram em seus filhos? Seus netos talvez?
“Os políticos dos países mais desenvolvidos não quiseram assinar os tratados a cerca da preservação ambiental, aquecimento global e etc. eles não queriam assinar, pois, isso seria um desfalque para seus cofres. Suas grandes indústrias produziriam menos. Seus automóveis seriam erradicados. Teriam que mudar de vida, deixar de ser tão consumistas e mesquinhos, mas, eles não queriam isso. Queriam era ganhar cada vez mais e mais dinheiro”, egoísta. Esses governantes não tinham filhos?
Acho que eles se arrependem de cada decisão tomada, de cada atitude hipócrita.
Arrependem-se de seu egoísmo, ou não. Eles têm tanto dinheiro que talvez, tenham até uma fonte de água particular e nos pessoas comuns temos que contar cada respiração e cada gole de água para as multas não sejam tão altas.
Queria conhecer cada lugar. Cada paisagem que meu avô me descrevera e talvez um dia isso seja possível. Talvez eles descubram uma solução antes do próximo mês chegar e nós morremos, pois, não teremos dinheiro para comprar mais água, nem oxigênio.
Ainda tenho esperanças de que um dia a humanidade possa se reestabelecer e tudo voltará a ser como antes. Como há 50 anos.

Colunista, Camila Leal.

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