Sobre o teu cheiro em mim.
Deixou uma bagunça fenomenal e um bilhete na geladeira que
dizia “Bom dia! Mais tarde eu volto, deixei meu cheiro nos teus lençóis para tu
não morrer de saudades”. E eu sorri. Joguei-me de volta na cama e me senti
entorpecida, eu poderia passar o resto da vida bem ali mergulhada no seu
perfume.
Eu teimava em dizer que “nós não temos nada, não namoramos,
não somos amantes, não estamos casados” e ele dizia “pra quê rotular? O meu
cheiro mora na tua pele e o teu gosto na minha boca, isso basta”. E realmente
basta. Sua boca habita minha pele e traça todos os caminhos e labirintos do meu
corpo, sempre quente, sempre incansável e insaciável. Enquanto isso, seu cheiro
deixa rastros em mim a cada contato, tato, pele.
Meu cabelo bagunçado pelas tuas mãos tem aquele toque do
álcool em gel (com cheiro de hortelã, você ama hortelã) que tu passa a cada
meia hora por conta do TOC. Meu rosto e corpo tem o gosto dos teus lábios
permeados pelos cigarros que tu fuma e esse gosto vira um cheiro que permanece
após uma longa noite de contatos, carícias, amassos. O cheiro do teu xampu se
infiltrou no meu travesseiro, e meus lençóis tem teu perfume de hortelã (já
disse que tu ama hortelã?), suor e algo mais.
Teu cheiro gruda como chiclete em mim. Minha pele quente
inundada pelas lembranças do teu toque. Tomar banho, ou não tomar? Ficarei mais
um tempo deitada, não quero que teu cheiro saia assim tão bruscamente. Pois,
por mais que eu use teu sabonete, teu perfume, teu desodorante, falta o algo
mais, falta o teu suor, o teu gosto. Falta o calor, a minha droga. Porque é
quente, hortelã, teu suor: minha cocaína. O teu cheiro em mim: uma overdose de você.
Colunista, Camila Leal.
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