Confesso que eu gosto de ser sua lua


Meu café esfriou. É o quarto já. Fiquei pensando na vida de novo, com ele na mão, esperando que me aquecesse juntamente com a blusa de lã que você deixou em casa, não sei se foi por descuido ou para eu me lembrar do seu cheiro. Mas se for a segunda opção, funcionou.

Fazia quase duas horas e meia que a insônia havia me dominado, e sua blusa também. Tentei dormir agarrada a ela para ver se o frio passava, mas não consegui. O cheiro do seu perfume misturado com o desodorante ainda estava impregnado nela e, mesmo com a alergia, eu a cheirava como se fosse droga.

Queria ter parado com o vício. Do café e de você. Os dois me dão insônia. Você é a causa, o café é o companheiro/ombro amigo nas madrugadas frias. Ainda estou tentando entender qual foi a parte do "adeus" e onde a gente se perdeu tanto. Talvez nos meus deslizes de emoção e paixão? Ou nas minhas mudanças de fase, como a lua? Bem que você dizia que eu era de lua, de preferência a cheia, porque eu estava cheia de tudo, todo dia.


Talvez seja isso?!


Vou colocar mais um tanto de café na xícara e espero que eu não esqueça dela e a deixe esfriar novamente. Já basta o frio lá fora, dentro de casa, agora eu também? 


Sou obrigada a conviver todo os dias com suas lembranças. Cada copo que quebra, cada arroz que queima, cada roxo que eu ganho - que não foi por tua causa - me lembra você. Falta algo aqui, falta calor. O calor do fogo que você tinha quando me tocava, do teu corpo quente colado no meu. Você me aquecia tão fácil como se eu estivesse perto do fogo, perto o suficiente para me queimar. Acho que me queimei.


Não importa o quanto eu ainda negue, para você, seus amigos e meus, Deus e o mundo todo. Eu ainda durmo com sua blusa e admito, comprei teu perfume. Sei que pode parecer louco e paranoico falando assim, mas não é. É só a busca incessante por você e pelo conforto que você me dava. Dava.


Dava noites quentes de sexo, amor e cumplicidade. Manhãs de café viciante que só você sabia fazer. Tardes de filmes com o teu colo como aconchego. Como se acostumar a viver sem isso? Sem suas ligações de madrugada no meio do trabalho dizendo que tava frio e queria meu corpo gelado. O que era engraçado.


E, por mais que eu tente agora, é difícil levantar daqui e caminhar para um rumo em que você não trombe comigo. Porque você está no parque, na roda-gigante, na igreja, no meu quarto, na minha cama, na lasanha, no strogonoff de frango, na faculdade, no trabalho. Você está em todo o canto, presente ou não. Não me deixando permitir mudar de rumo.


Confessa. 


Confesso, tatuei as fases da lua, para lembrar do que eu era para você. Eu sinto falta. 


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