Afinal, o que é clichê?
Afinal, o que é clichê? Será eu e você? Admirar o céu bem límpido e azul durante uma tarde ensolarada de verão? Pedir aquele picolé de fruta geladinho na praia, uma água de coco? Dormir em um lugar quentinho num dia de chuva forte, ou melhor ainda, sair e tomar um banho na hora da chuva, no meio da rua, daqueles capazes de limpar até a alma? Deve ser, não sei, talvez essas coisas bobas de pegar na mão, parar o beijo para ver o outro sorrir, tanto faz.
Afinal, o que é amar? Ir assistir a um por do sol ao lado do seu alguém, do seu amor, daquele seu benzinho? Escalar um prédio e por um cartaz em letras garrafais e luzes de neon com os dizeres "Eu quero me casar com você!"? É levar flores em um dia qualquer, nem que seja uma única rosa colhida pelo caminho? Comprar sorvete para TPM dela? Assistir aquele jogo de futebol só para não perder a chance de ficar do ladinho dele e sentir o seu perfume? Caminhar de mãos dadas no meio do parque, ter ciúmes bobos, beijos inesquecíveis e as melhores noites de sexo selvagem? É cuidar na saúde, na doença, na riqueza, na pobreza seja ela de dinheiro ou de espírito? Não sei, vai ver é aquela dorzinha lá no fundo do peito toda vez que ele tem de ir embora, talvez.
Afinal, quem é você? Me faz feliz e triste ao mesmo tempo. Vai embora, volta dias depois, faz com que a dor da partida nunca tenha acontecido e me inunda de esperanças de que dessa vez vai ficar para sempre, ou quase isso. Você, que me bagunça por inteira e faz do meu cérebro uma confusão maior do que já é. Você, que faz do meu caos tua morada, dos teus lábios minha casa e do meu coração todo seu. Me faz sentir as borboletas no estômago - malditas! - e faz todo meu corpo tremer com a proximidade do teu. Eu sei, você é aquilo que a Clarice Lispector tanto procurou, é o alguém que me transborda.
Afinal, existe um nós? Nós soltos, mal amarrados, amados, separados. Não sei, talvez sejamos só cadarços de sapatos diferentes, de outro par - no seu caso, outros pares - que por um acaso foram parar nos pés da mesma pessoa. Talvez, sejamos aquele laço que se desamarrou e nunca mais achou aquelas curvas que o faziam. Esse "nós" que mais parece um eu e um você, dois seres que se esbarraram, encostaram, deram umas voltas, umas curvas, tentaram se enrolar, porém não souberam se fazer nó - nós.
CAMILA LEAL, COLUNISTA.
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