O cárcere da emoção
Você
já amou alguém ao ponto de esquecer-se de si, aquele amor tão
grande que dói, te sufoca, te prende e te repreende o tempo inteiro?
Eu já, mas amei só, porque o amor nem sempre é reciproco e nem por
isso quer dizer que não seja verdadeiramente suficiente para ser
real. Mas, pelo que me apaixonei? Pelo que era, ou pelo que eu
imaginei que fosse, porque eu fiz nosso futuro na minha cabeça, eu
imaginei nossos filhos, nossa casa, os fins de semana e até mesmo as
brigas que terminariam na cama ou em algum lugar qualquer preenchido
de sorrisos. Eu idealizei nossas conversas, incluindo sua parte,
fazendo todo um roteiro programado e totalmente imaginário, só para
tornar real o que de fato nunca se tornou concreto, ao ponto de ser
nós.
Mas,
no fim, você só quer que aquela pessoa te ame como você a ama,
mesmo sabendo que isso não é possível, porque amor não é algo
que se possa pedir para alguém, ainda assim você pede, mandando
aquele oi que não recebera resposta, ou despejando sorrisos que
retornarão como um rosto amargo e vazio,
no qual a vida já retirou diversas alegrias assim como para você.
A
diferença é que você ainda sorri, você ainda insiste em soltar o
cabelo, em definir seus lábios com o vermelho puro de um batom e
colocar sua melhor roupa para um dia qualquer, mas que você acredita
ser mais um dia para fazer história. Mas, e essa linha tênue, entre
ser o rosto sorridente e amar o rosto amargo? Entre ser a felicidade
amando a tristeza, em ser o oposto do oposto e continuar, apesar dos
apesares? Você
ama porque acha que vale insistir, mas não vale, você sabe que não,
sabe que se colocar no posto de heroína não vai ajudar a felicidade
retornar e sabe que já fez demais por essa relação, porque você
tem aquela pessoa e vocês já se relacionam há um tempo, mas é
como se não tivesse, é como se fossem dois desconhecidos ocupando
a mesma cama, um aguardando que o outro o coloque na devida posição,
mesmo que seja a que retira da vida, a que diz adeus e a que assume
que tentamos demais, mas só amar não basta, ainda mais quando o
amor se cansa de ser só.
Larissa Araújo, Colunista
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