O bote salva-vidas


Eu pensei que conseguiria salvar todos a bordo, e dizer que entre mortos e feridos salvaram-se todos, e de fato salvei a maioria, eu formei sorrisos em rostos tristonhos, e dei razão para a existência de passageiros que tão pouco conhecia.
Haviam pequenos botes salva-vidas, alguns mantimentos, e apesar do barco que se perdeu, vidas renasceram de novo, em uma experiência de quase morte. Todos me agradeceram ao continuarem respirando, e suas vidas seguiram o curso normal ao seu destino que logo seria ancorado.
Entre mortos e feridos salvaram-se todos, menos eu. Quando tentei retornar a superfície já era tarde demais, tarde demais para respirar, ou me desprender dos destroços que me levavam mar a fundo, por alguns segundos confesso que o pouco da minha consciência, me fez ter relances da vida que eu vivi, e logo me questionei se tinha valido a pena.

Eu não entendia como alguém poderia estar ali morrendo mesmo salvando todos a sua volta, mas hoje entendo que você se esforça tanto para que os outros respirem, é como se fosse capaz de “doar o seu ar’’, e quando nota, percebe que já não existem nem se quer aparelhos de oxigênios, nem mãos que seguram, nem mais vida para viver. 

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