Eu, reflexão.


Tomei o trem das 14h, olhei para trás e lá estava você, me olhando com cara de choro, como quem não queria perder o que mais tinha de bem, o amor. Olhei pela janela e senti que aquele não era o ultimo dos nossos encontros, engoli o choro e fiquei te olhando por alguns segundos, tentando não pular pela janela e agarrar você, tentando controlar aquele turbilhão de pensamentos que havia tomado meu ser. Sentei e lá estava você, me olhando com a mesma cara de choro, sem se mover. Abri um sorriso e ela também. O trem começou a andar e nesse sorriso eu vi a solidão, vi que mais uma vez alguém estava te deixando, mas talvez não teria volta. Queria tentar minha vida noutro lugar, eu amava você, porém, precisava me encontrar. Eu precisava que você entendesse isso, que o meu lugar, não tem lugar. Talvez nem eu entenda isso, mas é algo maior que eu, maior que a minha vontade de ficar. Olhei para trás e lá estava você, com o sorriso no rosto e a solidão ao lado. Respirei fundo, pensei, refleti sobre o que eu estava fazendo, mas senti que era o certo. Morávamos numa cidade longe da capital, eu queria tentar algo melhor por lá, fiquei sabendo que lá havia muito emprego bom e na minha cidade não, mas a única coisa que me segurava ali, era você. Porém, não mais.
Estávamos juntos a quatro anos, sabia muitas coisas dela que acho que nem ela mesmo sabia, ela guardava muitos segredos, tinha seus mistérios, seus medos. A única coisa que eu fiz, foi ser seu porto, apenas. Aguentei tantos vendavais, tempestades que uma hora cansei. Uma vez, adentrei em um de seus mistérios, abri a porta, comecei a andar e andar, descobri um medo, outro receio, fui adentrando cada vez mais e sem perceber, eu já era como uma parte sua, ou talvez eu me sentia assim, parte de você. Quando dei por mim, estava dentro de um labirinto de uma mulher que mal sabia quem era, mal sabia quem iria ser e cada vez mais eu me via perdido dentro disso, precisava respirar, mas mesmo assim, continuei ali.
Cheguei na capital, passei alguns dias absorvendo experiências, me enchendo de luz, mas sempre pensando naquela ao qual deixei com a solidão. Pode ser ignorância minha, em deixa-la mas necessito que ela se amadureça mais e um navio na tempestade sem um porto, aprende a se virar, só não sabe o seu potencial. Todos nós sabemos nos virar sozinhos, mas andar com alguém sempre é bom. Andei com a solidão por dias também, tomei há como parceira e amiga, estava sempre comigo nos bares, nas aulas de historia.
Mas, num certo dia, ela apareceu. Com aquele mesmo sorriso e a solidão, na capital. Olhei-a nos olhos, ela veio e me beijou, mas não um beijo qualquer e sim um beijo com um gosto de saudade, sem ódio, sem rancor, apenas amor. Ela me disse que passou por dias em tempestades, escondidas nos porões da alma e abraçada com a solidão, mas se sente uma nova mulher, por que morrer, não é morrer, é nascer novamente para vida.

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