Acordei pensando em nós
Era mais ou menos umas sete da manhã, acordei, ouvia música no
rádio, era um jazz, coisa que não ouvia á tempos, só quando ela
ainda morava comigo. Levantei e fui seguindo até a cozinha, senti
aroma de café, eu me perguntava da onde poderia surgir esse cheiro,
procurei na memória se eu havia dormido com mais alguém ontem, não
fazia sentido. Cheguei até a cozinha e lá estava ela, de costas,
usando minha camiseta e só de calcinha, arregalei os olhos,
observando aquilo tudo. Sentindo minha presença, se virou logo para
mim com aquele mesmo sorriso em que eu me apaixonara meses atrás,
aqueles olhos verdes ao quais me sentia hipnotizado quando se
encontravam com os meus. Eu quis perguntar como ela foi parar ali
sendo que na noite passada eu havia dormido sozinho, fumei alguns
cigarros e dormi lendo um livro e as chaves de casa ela havia me
devolvido a algumas semanas. Será que ela guardou uma cópia? Mas,
qual o sentido sendo que brigamos e terminamos distantes um do outro,
não havia por que voltar. Mas ao mesmo tempo, eu queria abraça-la,
beija-la e sentir seu cheiro mais uma vez. Abri um sorriso, ela
também, ficou me olhando por alguns minutos, eu fiquei sem reação,
não sabia se isso era sonho ou realidade, não conseguia olhar em
mais nenhum lugar a não ser em seus olhos. E ao mesmo tempo tudo
começou a ficar distante, comecei a estranhar, ela começou a sumir,
o rosto começou a ficar embaçado, eu queria correr até ela, mas
não conseguia.
De repente, eu
estava em meu carro, ao lado de mim mesmo, mas eu não percebia que
estava lá, parei o carro, desci, fui até uma arvore e busquei uma
flor. Nesse dia, estava próximo do seu aniversário e eu queria
poder lhe dar algo simples, mas que fosse do seu agrado. Entrei no
carro e eu fiquei me observando ali, sentado. Andei mais alguns
quilômetros e achei mais uma arvore e fiz a mesma coisa, colhi as
flores que mais combinavam com ela. Lembro-me bem, que pensava em
escrever algumas poesias para ela, queria poder ser melhor para ela,
melhor para mim também. Ao anoitecer, fui de encontro com ela,
entreguei as flores, fiz um mini buque e lhe dei um beijo. Novamente
tudo começou a ficar embaçado e os rostos foram sumindo, eu fiquei
sentado observando, entendendo que minha mente estava buscando
imagens sobre nós e projetando em meu sonho, mas eu não conseguia
sair disso, apenas podia observar eu e ela, juntos.
Acordei assustado
com meu despertador gritando, olhei para o lado, eu havia queimado a
cama com os cigarros, estava tudo do jeito que eu deixei, o silencio
profundamente absoluto, não havia um jazz no som e nem aroma de café
no ar. Andei até a cozinha, apenas o sol refletia na janela, apenas
o seu sorriso e seus olhos que continuam em minha mente.
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