Chatham, 14 de Novembro de 2011.
Querida Sophie,
Já é noite Sophie e hoje eu
resolvi voltar ao que antes era o nosso lugar favorito no mundo, o nosso cais.
Ao olhar para o céu eis que contemplo uma imensidão de azul e nela vários pequenos
pontinhos de luz os quais me remetem a sua pele, não por ser azul obvio, mas
pelos pontinhos espalhados em seu corpo. Aqueles pontinhos que te deixam mais
exuberante que as outras mulheres. Pontinhos que te fazem única.
Faz tanto tempo, tanto tempo que
você se foi... Ainda lembro-me daquele triste dia. Fiz-me de forte e acabei por
tolo, burro, idiota, hipócrita, tudo porque você não podia saber que por
dentro, lá dentro, eu estava desmoronando, eu estava fraco e aos prantos. Você
era meu alicerce! E depois que você se foi o prédio forte desmoronou. Mas, não vim
aqui falar de sua partida querida, quero apenas lembrar-me do quanto fomos felizes
juntos, pois entendo que eu quis prender-te, logo você que sempre foi pássaro
solto no mundo. Logo você...
Lembro-me do teu riso pela manhã e do cheiro das
tuas panquecas queimadas, as quais me deixavam vivo, coisas tão banais e que
hoje fazem tanta falta em meus dias solitários. A bagunça da nossa cama, os
lençóis espalhados, jogados. O cafuné, aquele cafuné que me fazia tão bem. Sua
respiração pesada e as palavras murmuradas enquanto sonhavas. Seu cheiro de
frutas cítricas, sua pele branquinha, toda pontilhada pelas tuas sardas. A
maciez do seu toque. Nossos corpos colados, nossas almas entrelaçadas assim com
as minhas mãos em teus cabelos.
Agora, caminhando pelo cais observo o lugar aonde
fiz o pedido que mudaria nossas vidas para sempre, ou eu achei que seria para
sempre, a partir dali estaríamos presos um ao outro para o resto de nossas
vidas, ou quase isso. Você em meio a sorrisos e lágrimas, alegria e dor,
prontamente aceitou, sem ao menos pestanejar, sem chegar a pensar sobre nem por
um só segundo.
Ao observar mais uma vez o céu nesta noite eu vejo
a estrela, dei o teu nome a ela naquele mesmo dia, você se lembra? Ah, claro
que não deve lembrar-se. Como sou tolo, te fazendo perguntas que serás incapaz
de responder, pois, tu não lembras mais, pelo menos é o que penso, já que no
dia em que partiu apagou todo o teu passado, o nosso passado e foi refazer a
tua vida em outro lugar, em outro céu.
Esse mesmo azul que hoje me traz recordações tuas
é o doce azul que me condena, porque eu ainda não sou capaz de entender o porquê
de não ter impedido a tua partida, querida, o porque eu não me ajoelhei diante
de ti e não te implorei para que ficasses. Eu jamais vou entender. Querida, será
que seria inútil pedir para que voltes? Faz tanto frio... e permanecer sozinho
neste cais tem sido perturbador, suplico-te que volte junto com aquela onda
que vem ao longe. Venha com a onda e deixe que ela leve minha saudade. Volte e
fique, fique um pouquinho, o tempo todo. Fique para sempre querida e faça dos
meus braços a tua casa novamente.
Camila Leal, Colunista.
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