5 de junho de 2003


5 de junho de 2003

Eu sentia muito frio por conta do inverno que acabava de chegar na cidade. Minhas mãos, sem luvas, congelavam mesmo eu tentando aquecê-las. Assoprava vento quente, mas não fazia efeito algum. Já estava anoitecendo e o sol que lutava pra aquecer as pessoas, estava se retirando para dar lugar à lua tão linda mas tão fria. 

O anoitecer havia chegado e o frio aumentado. Juro que tentei me concentrar no que tinha que fazer, nos trabalhos que tinha que terminar e nas atividades extras. Não estava rolando. A saudade batia cada vez mais forte e chegava a doer. Doer mesmo, como se algo estivesse me dilacerando por dentro e eu pensei que talvez deveria ligar para ele. Sentei-me na calçada de frente à minha casa e disquei seu número. Por diversas vezes tocou até cair na caixa postal. Achei estranho porque isso nunca partiria dele. 

Não era de ficar ligando tanto, mas a dor no meu peito aumentava e comecei a me preocupar. Peguei o carro e fui até a casa dele. Bom, aquele dia ficou marcado na minha vida. Eu acabava de descobrir que ele, talvez, nunca mais fosse me abraçar.

O encontrei deitado numa maca de hospital com o rosto inchado, vermelho e roxo. Seus olhos não abriam e sua boca não se mexia. Ele estava estático. Não era o meu garoto, não era o cara por quem me apaixonei. Sentia falta dos seus olhos. Minha boca estava ressecada e meus olhos marejados. Tentei, em vão, segurar o choro. Tentei não desabar, mas foi impossível. Era como ter tudo num segundo, num beijo, e perceber que o tudo não iria mais existir. Eu poderia perder. Eu talvez iria perder.

Não perdi. Não naquele momento, não físico. Perdi ele comigo. Ele não lembrava quem eu era, não lembrava das noites de amor que tivemos ou dos beijos quentes no inverno. Ele nem sequer lembrava que tinha me pedido em casamento. Nem meu nome, meu número ou meu endereço. Ele não sabia quem eu era. Eu nunca havia existido pra ele.

E toda vez que passo do seu lado, na rua, no restaurante, na faculdade, na igreja eu lembro de quando ele dizia que me amava e que nada mudaria isso. Talvez não por ele, mas pelo destino. Talvez ele gostasse de mim de novo, quem sabe um dia. 

Talvez nessa nossa nova fase, novas conversas e novas risadas ele me encontre novamente. Me encontre na esquina e me beije perdidamente. Me tire o fôlego e me deixe nostalgiada. Esquente minhas mãos no frio e me abrace com força. Estrale meus dedos de um jeito que só ele consegue e tire meu cabelo detrás da orelha. Quem sabe nessa nossa conversa boba, ele me dê uma carona e me chame pra sair, se apaixone depois de um tempo e descubra que era eu e sempre será. Talvez ele volte pra mim. 

Mas enquanto isso eu espero que ele continue com o sorriso do canto esquerdo sempre plantado no rosto. Que ele continue com os objetivos de crescer e ir embora viver. Que ele voe como quer, que viva o máximo até explodir de felicidade. Que se fruste e aprenda, e cresça. Até o dia que ele volte a ser meu, e nesse dia eu estarei lá, esperando.

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