Não quero crescer


Quando eu era criança, costumava ficar até as dez, onze da noite na rua. Todas as quase dez crianças que eram minhas vizinhas ficavam também. Nós jogávamos bets e andávamos de patins, rolava futebol (acho que gosto por conviver com muito homem) e esconde-esconde. Gato-mia (miau) era quase rotina. 

Algumas vezes quando eu saía da escola o tio da raspadinha estava lá. Eu comprava a maior e pedia para ele caprichar no leite condensado. Outra coisa legal da saída da escola era a tia dos doces que ficava lá na frente. A gente comprava doce pra vida inteira e nem sabia da onde vinha tanta moedinha. Juntava dinheiro só para isso, não havia mais nada pra se preocupar. Tinha um docinho que até hoje, caso eu ache, eu compro, ele era um pirulito envolvido em açúcar, ai você chupava e jogava no açúcar e chupava de novo. A gente nem tinha malícia antes.


Mas não havia nada melhor do que acordar, pegar meu cobertor e meu travesseiro e deitar no sofá. Naquela época não havia preocupações com contas, amigos, paixões, faculdade, trabalho...Ah! Era bom ser criança. Ver desenhos o dia inteiro e adorar ir pra escola. Brincar na hora do recreio e não ter medo de notas. Ser feliz quando o sorveteiro passa pela rua e sair gritando "Mãe! Mãe! Sorvete!". Qual era meu problema em querer crescer?


Crianças são ingênuas, portadoras de um amor profundo e puro. Detentoras da maior doçura existente. Criança não precisa se preocupar com trânsito, medos e outras coisas, mas geralmente se preocupam em ser adultas, querem crescer e tudo o mais. Se elas soubessem que os adultos sentem falta de ser criança. 


Talvez ninguém mais quisesse crescer. Quem dera eu ir para a "Terra do nunca" e ser criança eternamente. Sorte é do Peter Pan que nunca precisou crescer. 


Cranela

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