Nem o vício do cigarro te supera



A caixa do Marlboro em cima da escrivaninha me chamava muito a atenção, mas até o maldito vício do cigarro me lembrava você. A maldita promessa que fiz: parar de fumar. No entanto, você não estava mais ali, só o teu cheiro em minhas roupas e tuas risadas doces ecoadas em cada canto das paredes, apenas. 

Alcancei a caixa e a abri. Um cigarro! Um maldito e miserável cigarro, apenas um! Eu esperava que ele saciasse minha dor de te ver indo, sem conseguir te puxar de volta. Abri a escrivaninha e peguei o esqueiro que, por merda de vida, você havia me dado. O olhei, o admirei e o virei de cabeça para baixo: nossas iniciais ali. Dei um tranco, voltando para o cigarro, fitando-o como se ele fosse a última coisa no mundo e como se eu o desejasse mais que tudo. 

Acendi e traguei. O gosto da dor desceu pela minha garganta e eu grunhi. Que merda de cigarro era aquele, tinha que ter gosto de menta e não esse gosto maldito de como se algo estivesse doendo no meu peito. Eu não podia escapar, algo estava doendo muito em meu peito, mas não era necessário lembrar. Me deitei na cama e dei mais uma tragada. O gosto foi adocicando e o cigarro foi saciando a dor, - ou assim eu queria e pensava - dei a terceira tragada e as gotas da chuva bateram na janela, molhando todo o chão. 

Levantei e corri para fecha-la. O vento gélido fez com que a dor voltasse e o cigarro se apagasse. Mas que merda! Deitei na cama rapidamente, indo em direção a escrivaninha, para pegar o esqueiro. Revirei a maldita escrivaninha toda e o esqueiro já não se encontrava mais lá. Intriguei-me, onde eu havia colocado aquela maldita lembrança? Era a única que eu havia deixado comigo, era a que eu mais gostava, tinha suas iniciais, e era de sua cor predileta, o maldito roxo. 

Debrucei-me para debaixo da cama. Roupas, sapatos, papéis e… papéis, voltei-me a olhar para um pequeno papel de cor verde que estava jogado em baixo da cama. Era pequeno e suas palavras eram de uma caligrafia linda, no entanto, acho que a pessoa estava tremula. Manchas arredondas se encontravam por toda parte do pequeno papelzinho. Coloquei o papel em cima da cama e voltei a olhar debaixo dela. Ah! Encontrei você seu maldito esqueiro filho da puta. 

Segurei ele em minhas mãos bem forte e voltei a acender o cigarro. Tentativa a toa. A porcaria do vício me deixara na mão, assim como você. Dei um soco no colchão e o pequeno papel voou, e então foi caindo, devagar, suave e de forma intrigante. O peguei e o abri de novo, agora prestando atenção nas palavras: “Engraçado não? Enquanto eu ria você chorava e me fazia rir entre as lágrimas também, e todo aquele maldito amor tão imperfeito acabou. Sinto sua falta, pena que não sentes a minha, não veio atrás, não pediu para que eu ficasse, apenas virou as costas e foi, me deixando apenas a saudade como lembrança.” 

Senti uma lágrima tentando escapar de meus olhos e a repreendi no mesmo instante. Se soubesse que sinto sua falta, mas a dor não deixa nem eu me levantar da cama… Se soubesse, se me atendesse, ah, se […] 

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