Ainda sou aquela criança
Amadureci como escritora, hoje sexo já não
se faz um tabú, sexo sexo sexo, ao longo dos meus 20 anos a palavra já não
causa risadas. Recordo-me que no Ensino Fundamental, quando a professora
mencionava sexo todos riam, faziam graças, ninguém levava a sério, hoje a gente
ri para não chorar.
Eu quis crescer, com 12 anos batia o pé que era uma
pré-adolescente quando era chamada de criança, que tolice, hoje penso. Que
preocupações grandes eu tinha na infância, que se resumiam na minha mãe me
chamar para entrar para dentro de casa logo, justo quando a brincadeira com os
amigos da rua estava ficando boa.
Hoje os problemas da vida adulta são
contados nos dedos e ainda faltam, e se não existem problemas a gente os cria,
na terrível mania de achar que tem algo errado quando se está feliz demais,
visto que a felicidade bater na porta parece coisa rara.
Meu professor, chamava os jovens do
terceiro ano do Ensino Médio, de futuro do Brasil, hoje sinto o peso de tais
palavras nas costas, quando se tem tantos motivos para se lutar, e tão pouca
gente para ouvir nossa voz.
Mas ainda somos o futuro, ou talvez já
sejamos o presente, quando temos que lutar todos os dias para ter motivos para
sorrir, para encarar a vida com um sorriso aberto, para aprender a compreender,
para não tolerar a hipocrisia, para seguir em frente, um dia de cada vez,
fazendo nossa parte, e as vezes a parte do outro.
Demorei muito para entender enfim que o
que me cabe é ser humana, fazer o que posso fazer e além, olhar o outro mais
devagar, não ignorar a dor, lutar por quem já perdeu as forças, e enxergar os
seres humanos hoje invisíveis pela sociedade, morando na rua, passando frio,
fome, necessitando do básico, que a gente esbanja todo dia e não se recorda nem
de agradecer pelo que tem.
Porque somos os animais mais egoístas
desse planeta, e ainda não aprendemos bem sobre amor, sobre partilha, mas ainda
tenho esperanças, aquela mesma esperança da criança que ria com uma palavra,
mas que acreditava que o mundo todo era assim, uma graça, cheio de motivos para
a gente sorrir, bonito até na flor do quintal de casa
0 comentários