Eu escrevo você nem seja em metáforas.

[você pode ouvir essa música ao som de Rainy Day]

Você chega em certa fase da vida e percebe que os problemas já não se resumem em levar uma queda e ralar o joelho. Olha pros lados e não tem sua mãe com aquela voz calorosa te dizendo que vai ficar tudo bem, que é "só dar um beijinho que sara". Nem seu pai para te comprar todas as guloseimas da lojinha da esquina - acaba sendo sorte se você tiver alguma bala perdida dentro do bolso de algum short.
Chega essa hora em que você recebe certa carga de responsabilidades. Que tem que comprar a própria comida e tomar as próprias decisões - e você ainda não consegue nem escolher o sabor do sorvete. Tem que lembrar de acordar sozinha e de limpar a própria sujeira - que eu só percebi que eram os outros que limpavam depois que passei a morar "sozinha".
Aí é que você nota o quanto sente falta daquele colinho do pai e do beijo que sua mãe te dava todos os dias. De alguém que pergunta como foi seu dia e que sente quando você está mal. É nesse momento que você passa a valorizar todo o tempinho que pode passar ao lado deles e lembra com um misto de tristeza e saudade de todas as broncas que já levou e ainda leva.
É nessa fase da vida que um coração partido - mesmo ainda causando certo alvoroço - não te faz chorar como o medo de ficar sozinha faz. Fantasmas novos aparecem e te assombram com mil e uma perguntas sobre o futuro - "será que vou consiguir?" é sempre a mais frente.
É nesse momento que você passa a olhar para todos que já passaram na sua vida, os que te deixaram, os que trairam, os que foram se afastando aos pouquinhos e deixando rastros de saudades em todos os lugares, aqueles que foram percas repentinas, os que não passaram de um verão ensolarado e aqueles que foram temporal - pode ter certeza que esses últimos levaram uma parte de mim ao partir e que me partiram junto com a partida.
Você se encaixa exatamente em temporal e no fato de ter me partido ao partir. Eu já era uma bagunça ambulante e você me bagunçou mais ainda. Trouxe na mala - nas nuvens desse temporal que você é - medos, ideais, confusões, dúvidas, ansiedades... e eu boba tomei tudo para mim. Me entupi de receios por você e tomei posse de cada medo teu - dizendo para mim mesma que te entenderia se fizesse isso.
Acabo sempre escrevendo e descrevendo você - nem que seja em metáforas. É que sabe, você me tatuou com a tua impressão digital, me preencheu com seu cheiro, fez meu coração derreter inteirinho e me fez mudar completamente. Diria até que hoje a minha vida é dividida em duas, uma antes de você e uma depois, onde o durante não passou de um dia chuvoso no meio do verão e sendo assim, você foi embora tão rápido quanto a chuva. E eu fiquei só um vazio repleto saudades.




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