Tantos ões e pouco nós.



É estranho, quero dizer, as pessoas julgam amar e no dia seguinte tudo muda. Então você nota os recados antigos na caixa de mensagem, com uma observação dizendo: eu te amo. Os bilhetes de cinema, os rascunhos no velho caderno, as listas de filmes e músicas que vocês prometeram que veriam, mas não tiveram tempo, o nós acabou antes mesmo da lista, e tudo deixou o sentido para dar lugar a estranheza.
Costumo pensar que verdadeiramente a maior estranheza acontece entre duas pessoas que se conheciam muito, mas que se tornam desconhecidas depois do fim, seja ele trágico ou não.
Você se pergunta então onde foi o erro, ou se o destino não resolveu ser gentil dessa vez, você não tem sorte no jogo e deveria ter no amor, mas parece que seu azar ocupa tudo e ela foi embora, ela foi embora e deixou a caixa de mensagens, os bilhetes, os rascunhos, as listas, as palavras, ditas e não ditas, malditas palavras.
Ficou o eu te amo, o silêncio, o fim comprovado, a ausência do amor, porque amor mesmo não acaba. Ficou o pré-amor, o projeto inacabado, a nota 0 naquele trabalho árduo que se esforçou, mas não obteve sucesso, o não que tanto evitou, o 9,8 quando o amor dependia do 0,2 que você não se preocupo, para que a relação fosse um 10 com louvor, se possível fosse claro quantificar uma relação. Mas não é, somos subjetivos demais e se tratando de amor o 0,2 corresponde a palavras, interrogações, discussões, lições, e tantos ões, e pouco nós.

Larissa Araújo, colunista. 

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